Cientista político francês diz que Brasil “passou do sonho à distopia” sob Bolsonaro

Atualizado em 23 de maio de 2020 às 13:30
Bolsonaro vende cloroquina

O cientista político Gaspard Estrada, Diretor executivo do Observatório da América Latina e do Caribe da universidade Sciences Po, deu entrevista ao Le Monde que ajuda a enterrar a imagem do Brasil no exterior.

A matéria viralizou na França.

“O Brasil está passando por um momento que pode ser descrito como distópico. À medida que os problemas se acumulam nas frentes de saúde, econômica, política e social, o governo parece mais preocupado com sua própria sobrevivência do que com seus concidadãos”, diz ele.

“É impressionante notar que, há uma década, o país parecia estar vivendo um sonho: a economia estava operando em plena capacidade, a pobreza estava diminuindo, assim como as desigualdades. Considerado na época como o “campeão dos emergentes”, graças ao tríptico democracia-previsibilidade do crescimento, o Brasil parecia até destinado a ocupar um papel central nos assuntos do planeta.

Então o sonho se tornou um pesadelo. Os consensos políticos, econômicos e sociais foram destruídos. Enquanto a destituição no final de 1992 de Fernando Collor de Mello [presidente eleito em 1990] uniu o país em torno de ganhos democráticos, a de Dilma Rousseff [presidente desde 2011] em 2016 colocou a democracia brasileira à prova.

Ao contrário de seus antecessores, Bolsonaro rejeita esses padrões do jogo democrático, incentiva a violência nas ruas ou nas redes sociais adotando a estratégia de negação diante da pandemia e incentivando seus partidários a radicalizarem contra aqueles que não compartilham opinião dele.

Essa expressão [“a Constituição sou eu”] é sintomática de sua concepção do papel de presidente: significa dizer que o estado pertence a ele e que ele pode usá-lo como bem entender. O respeito pelo Estado de Direito se torna incidental. É assim que ele considera normal apoiar o fechamento do Congresso e da Suprema Corte, que se diz estar em conflito com a oposição para elaborar uma “conspiração” contra ele.

Então, o que poderia ser mais óbvio do que intervir arbitrariamente na polícia e nos serviços de inteligência, seguindo uma política que persegue minorias, ataca jornalistas, censura a cultura e tenta silenciar a oposição? Sem mencionar sua política externa, descrita como “diplomacia da vergonha” por quase todos aqueles que serviram como ministros das Relações Exteriores do Brasil desde o final da ditadura militar [1964-1985].”