Cientistas da USP dizem que brinquedos no Brasil são altamente tóxicos

Atualizado em 8 de outubro de 2025 às 19:08
Criança brincando. Foto: reprodução

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), identificaram altos níveis de substâncias tóxicas em brinquedos plásticos comercializados no Brasil. O estudo, publicado na revista Exposure and Health, analisou 70 produtos, nacionais e importados, sendo o mais abrangente já realizado no país sobre contaminação química em produtos infantis. Os resultados mostram que grande parte dos brinquedos não atende às normas do Inmetro e da União Europeia.

O caso mais crítico envolve o bário, detectado acima do limite permitido em 44,3% das amostras, com concentrações até 15 vezes maiores que o permitido.

A exposição a esse metal pode causar problemas cardíacos e neurológicos, como arritmias e paralisias. Também foram encontrados níveis elevados de chumbo, crômio e antimônio.

O chumbo, que pode causar danos neurológicos irreversíveis, estava acima do limite em 32,9% das amostras, com concentração quase quatro vezes superior ao permitido. O antimônio e o crômio apresentaram irregularidades em 24,3% e 20% dos brinquedos, respectivamente.

“Esses dados revelam um cenário preocupante de contaminação múltipla e falta de controle. Tanto que no estudo sugerimos medidas mais rígidas de fiscalização, como análises laboratoriais regulares, rastreabilidade dos produtos e certificações mais exigentes, especialmente para itens importados”, afirmou Bruno Alves Rocha, responsável pela pesquisa de pós-doutorado apoiada pela Fapesp, em entrevista à Folha.

Brinquedos infantis. Foto: ilustração

Os brinquedos foram escolhidos para representar diferentes faixas socioeconômicas e idades de 0 a 12 anos, com destaque para produtos que facilitam a exploração oral, aumentando o risco de exposição.

A análise utilizou espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) e digestão ácida assistida por micro-ondas, simulando a liberação de substâncias químicas pelo contato com a saliva das crianças.

Foram detectados 21 elementos com potencial tóxico, incluindo prata, alumínio, arsênio, bário, berílio, cádmio, cério, cobalto, crômio, cobre, mercúrio, lantânio, manganês, níquel, chumbo, rubídio, antimônio, selênio, tálio, urânio e zinco. Testes de bioacessibilidade mostraram que entre 0,11% e 7,33% dos contaminantes totais são liberados sob exposição oral, mas as altas concentrações totais permanecem preocupantes.

O estudo também permitiu identificar possíveis fontes de contaminação, como correlação entre níquel, cobalto e manganês, sugerindo origem comum na fabricação. Brinquedos de cor bege apresentaram concentrações mais altas de metais, possivelmente ligadas ao fornecedor da tinta.

Além disso, pesquisas anteriores do grupo já indicaram a presença de bisfenóis, parabenos e ftalatos, conhecidos como disruptores endócrinos. “Esse não é o primeiro estudo com resultados tão alarmantes, o que só reforça a necessidade de ações urgentes para proteger a saúde das crianças”, concluiu Rocha.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.