Em meu texto mais recente para o DCM, discuto o caso da influenciadora conservadora Cíntia Chagas, agredida pelo ex-marido, o Deputado Estadual Lucas Bove, de quem se divorciou após sofrer agressões físicas e psicológicas.
Novos desdobramentos do caso surgiram em entrevista concedida pela influenciadora à Revista “Marie Claire”, onde a vítima detalha as agressões e fala pela primeira vez sobre a repercussão do episódio.
Na entrevista, Cíntia afirma ter sido usada como “cabo eleitoral” pelo ex-marido, o que não surpreende ninguém.
O projeto bolsonarista de incluir “mulheres conservadoras” em suas pautas é real e afeta não só Cíntia, mas também outras mulheres, cuja utilidade se limita aos planos políticos de seus maridos, como no caso de Heloísa Bolsonaro e da própria Michelle.
O PL Mulher, por sua vez, não ofereceu qualquer apoio à vítima, que declarou ter ficado surpresa ao saber que o partido procurou o agressor, e não ela, para tratar do caso.
Ao afirmar que vivia sob ameaça, pois o marido possuía uma arma, Cíntia relatou ter ouvido de Lucas Bove na noite em que saiu de casa:
“Você só não apanha porque tem 6 milhões de seguidores. Se não, eu estaria te chutando no chão agora.”
É desnecessário dizer o quanto é perturbador ler algo assim, especialmente para qualquer mulher, mas há algo que precisa ser dito:
Não é coincidência que a maioria dos agressores de mulheres expostos pela mídia sejam bolsonaristas. A fórmula é quase sempre a mesma: conservadorismo, armas e violência. A fantasia da Família Tradicional Brasileira muitas vezes se resume a uma mulher violentada e, não raramente, silenciada.
O que quero destacar, porém, não é o agressor, mas a agredida:
Na mesma entrevista, a influenciadora confessou que esperava ataques tanto da esquerda quanto da direita, mas adivinhem quem a atacou?
Enquanto a Coalizão Nacional de Mulheres se posicionou em defesa da vítima, a extrema-direita a atacou (e continua atacando) desde o anúncio do divórcio.
“Grupos feministas entenderam meu lado e me apoiaram“, afirmou ela.
É isso que fazemos: apoiamos mulheres.
O feminismo, enquanto movimento político, não se preocupa em julgar mulheres vítimas de violência. Não diz que mulheres conservadoras merecem apanhar, nem condiciona seu apoio à posição política de qualquer mulher.
Nós sequer fazemos questão de demonstrar que estávamos certas: apenas seguimos com nosso propósito maior, que é a erradicação da violência de gênero.
Se fossem honestas, outras mulheres conservadoras falariam sobre a abertura dos movimentos feministas em relação às mulheres de direita.
Elas diriam que nunca as segregamos, mas, ao contrário, sempre estamos prontas a apoiá-las quando os homens que as usaram resolvem descartá-las ou, como neste caso, violentá-las.
Embora o feminismo seja, essencialmente, um movimento de esquerda, seus métodos não incluem excluir mulheres de direita, mas acolhê-las, buscando, em segundo plano, mostrar que a opressão que elas sofrem está diretamente ligada ao posicionamento político que escolhem.
Enquanto isso, a extrema-direita abandona suas “aliadas” na primeira oportunidade. A influenciadora sequer foi procurada pelo PL Mulher.
A direita não apenas não apoia mulheres agredidas, como faz questão de abafar os casos: se não fosse uma mulher influente, Cíntia estaria agora silenciada, como tantas outras.
É preciso parabenizá-la pela coragem de vir a público denunciar um criminoso, mas, sobretudo, é necessário dizer que a Coalizão Nacional de Mulheres, ao oferecer apoio a Cíntia Chagas, reafirma o nosso compromisso:
Os feminismos existem para proteger todas as mulheres, mesmo aquelas que não sabem (ou fingem não saber) que precisam ser protegidas.
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