
A ação de prisão do ex-deputado Roberto Jefferson gerou diversas críticas em relação ao tratamento dado a ele pelos policiais federais. Mesmo após atirar contra dois agentes, o bolsonarista não foi tratado como um criminoso durante as negociações.
Para a especialista em segurança pública Jacqueline Muniz, a ação da polícia foi controversa. “Aquela conversa, aquele diálogo está longe dos manuais e das boas práticas. A ação envergonhou e constrangeu os policiais federais do Brasil inteiro ao assistir aquela cena política operacional a serviço de um projeto eleitoral, porque se tratava de produzir um circo, é assim que os policiais estão chamando, um circo bolsonaroista, que queimou o filme da Polícia Federal”, diz ela ao DCM.
No domingo (23), após Jefferson atirar vinte vezes contra os policiais e jogar duas granadas, ele teve uma conversa “amigável” com agentes que realizavam a ação. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que um policial tenta negociar a prisão com o ex-deputado e afirma que outros agentes “eram só burocratas e que não entenderam nada na situação.”
Um videozinho da PF negociando a prisão do Roberto Jefferson. Vergonhoso! pic.twitter.com/Cpx9sFgzB3
— Iᴠᴀᴍ Cᴀʙʀᴀʟ (@ivamcabral) October 24, 2022
Uma mensagem compartilhada em grupos de WhatsApp e atribuída ao agente que mediava a ação mostra ele tentando se explicar: “Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto seria uma tragédia e nome da PF na lama. Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível”, explicou ele, de acordo com o UOL.
Segundo Jacqueline, o policial foi “absolutamente amador, em uma ação que não tem nada de policial. Não é para repetir fantasia cinematográfica de filme de polícia e muito menos para fazer o que a gente assistiu ali no vídeo. Você vê que é tudo ensaiado, está todo mundo ali muito tranquilamente encenando o papel, é um capítulo de novela de mau gosto”.
“Rolou uma tentativa de homicídio. Quer dizer que a vida dos policiais ficou em segundo plano. É um espetáculo que quer vender caro o seu passe político. Isso é uma vergonha, mas não é só uma vergonha, é muito grave, mostra que tem insegurança jurídica institucional na ação da polícia e quando isso acontece a democracia está deliberadamente em risco”, acrescenta ela.

Após o vídeo viralizar, delegados questionaram o comportamento do agente federal e disseram que está longe de ser um procedimento adequado.
A atuação do ministro da Justiça, Anderson Torres, também é algo a ser analisado. Por determinação do presidente Jair Bolsonaro (PL), Torres se dirigiu ao estado do Rio de Janeiro para acompanhar o caso.
Para Jacqueline, o ministro tem que prestar contas, pois não tem poder de prender ninguém: “Já deu tempo de o ministro vir a público se explicar e se desculpar pelo que fez”.
“De forma republicana e democrática, queremos que as instituições prestem contas a respeito do senhor Roberto Jefferson, um criminoso que atirou na polícia ao receber voz de prisão”, afirma a especialista.
“Quando você atira, dá 20 tiros de fuzil, joga granadas, você não está brincando de festa de São João com um padre falso de festa junina. Você está produzindo um ataque. O uso violento dos recursos para impedir o cumprimento da Justiça. Isso mostrou que existe bandido de estimação, tal qual como aquele deputado musculoso [Daniel Silveira], que a despeito da Ordem da Justiça ficou ganhando perdão de Presidente da República. Quem mais vai ganhar perdão aqui?”, questiona.