Ciro, após atravessar o Rubicão, se vê obrigado a voltar à esquerda. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 20 de julho de 2018 às 16:07
Ciro na convenção do PDT em que lançou sua candidatura

Ao tomar a perigosa e intempestiva decisão de atravessar o rio Rubicão, considerado limite fronteiriço da Itália com a antiga província da Gália Cisalpina, o general e estadista romano Caio Júlio César sabia seguir um caminho sem volta.

Ciente das consequências de seus atos, proferiu a famosa frase “alea jacta est”. Do resultado de sua empreitada, apenas dois resultados seriam possíveis: a glória ou a morte.

Pois bem! Dois mil anos superados, Ciro Gomes, um autoproclamado “candidato de esquerda”, ultrapassou o seu Rubicão. Como a glória não se deu, acredita poder fazer o caminho de volta para evitar a segunda opção.

Desdenhado pelo chamado “Centrão”, um aninhado de partidos nanicos, fisiológicos, corruptos e chantagistas da direita, viu a sua grande cartada escorregar pelos dedos em direção ao seu antigo colega de partido, o tucano Geraldo Alckmin.

Isolado e vendo sua terceira tentativa à presidência naufragar, retoma, novamente, o seu discurso mais à esquerda.

Horas após o rompimento do noivado e destinada a uma plateia de dirigentes sindicais, proferiu uma frase inimaginável de ser dita, por exemplo, aos seus colegas do DEM.

O Brasil nunca será um país em paz enquanto o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva não restaurar a sua liberdade. Eu luto por isso”.

Famoso pelos seus surtos temperamentais, também mostrou que pode ser humilde. Disse ele, como se ninguém soubesse:

Eu não sou o dono da verdade, não sou poupado do erro, eu cometo erros. Eu cometo erros e não me custa nada reconhecer erros. Mas nenhum deles foi por deserção do que me trouxe à vida pública de volta, que é o compromisso e o amor a essa terra e esse povo”.

Então tá! Ficamos combinados assim.

Ciro e o PDT fizeram sua convenção hoje (20) na qual, diga-se de passagem, voltou-se a falar de Lula. Sua candidatura a presidente, portanto, a princípio está dada. Ainda sem vice e sem alianças, também começa a enxergar o PSB cada vez mais longe, tanto pelo seu isolamento quanto pelos seus números nas pesquisas.

Dado o quadro, alguém pode se perguntar o que ainda espera dos demais partidos da esquerda o ex-governador do Ceará.

Sozinho Ciro sabe que não chega a lugar nenhum.

Da mesma forma, imaginar que depois de tudo o PT agora abra mão de sua candidatura ou mesmo de ser cabeça de chave em seu favor, beira a demência.

Ainda que remotamente consiga o apoio do PSB e, vá lá, do PCdoB, as suas chances de aparecer no segundo turno são cada vez menores.

E não indiferente à situação dramática de Ciro Gomes, as peças do xadrez político se movimentam. O tempo passa em desfavor de sua candidatura.

Pesada atualmente a correlação de forças, Ciro retorna mais fraco do que quando foi. Sua contribuição para o campo progressista, portanto, segue o mesmo caminho.

Se não quiser ser abandonado de vez pelos dois lados do espectro político nacional, é preciso exercer, na prática, a sua humildade declarada no discurso aos líderes sindicais.

Enquanto Ciro não entender que sua atual posição mais prejudica do que ajuda a esquerda que pretensamente diz ser, continuará sendo mais um elemento a favor do golpe que, também pretensamente, diz combater.

Jogados os dados, já está mais do que na hora do candidato perceber que a “sorte está lançada” e que, definitivamente, não é dele o protagonismo dessa empreitada.

Aliás, avisa quem amigo é, a essa altura do campeonato ficará muito feio para ele ter uma repentina vontade de visitar o ex-presidente na cadeia.