Ciro e suas caras: ontem, dizia que Brizola era “supra-sumo do atraso”, hoje o fundador do PDT virou “estadista”

Atualizado em 22 de junho de 2020 às 8:23

Ciro Gomes participou ontem de uma live em tributo a Leonel Brizola, juntamente com o presidente do PDT, Carlos Lupi, e a neta do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Juliana Brizola, que é deputada estadual.

A live foi realizada a propósito da passagem dos 16 anos da morte de Brizola, cujo legado Ciro Gomes diz honrar. Naturalmente, ele não falou — nem ninguém lhe cobrou — sobre o que pensava do Velho Caudilho quando este estava vivo. Brizola gostava de ser chamado assim.

Em 1994, governador do Ceará e cabo eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, Ciro detonou o líder trabalhista, que era candidato a presidente.

“Brizola é o supra-sumo do atraso”, disse. “Brizola é populista e, pior, com discurso de esquerda”.

Está certo que o que Ciro Gomes diz não se escreve.

Ontem, aquele que se apresenta (ou é apresentado) como o Brizola dos tempos atuais disse coisas como:

“Vamos juntos homenagear a memória e o exemplo do herói nacional Leonel de Moura Brizola, que nos deixou há 16 anos.”

Em 1994, Brizola era o “supre-sumo do atraso”. Ontem:

“Brizola era um verdadeiro líder, um grande estadista, que tinha amor pelo povo brasileiro. Tudo o que eu não vejo no atual presidente, principalmente o amor pelo povo.”

O populista de 1994 virou ontem, em palavras ditas pela mesma boca:

“Brizola entendia o quanto é importante a pesquisa, o conhecimento, a cultura e as tradições do nosso povo.”

Quer mais?

“A melhor maneira de homenageá-lo é seguindo seu exemplo, é continuar lutando pelo Brasil, é continuar acreditando nessa pátria, continuar acreditando na educação como único instrumento de transformação e libertação de um povo.”

“Brizola sempre nos ensinou a ter muita coragem para resistir. A história do trabalhismo é a história da resistência.”

A incoerência não é surpreendente na trajetória de quem já foi do partido da ditadura, defendeu a anistia sem investigar a tortura, foi tucano, defendeu a entrada do PSDB no governo Collor, foi aliado de Paulinho da Força, serviu ao governo do PT e hoje ataca Lula.

O presidente do PDT, certamente, sabe que ele não é confiável. Mas o tolera, porque acredita que os 12% que teve nas últimas eleições podem se repetir em 2022 e, assim, ajudar a eleger uma bancada de deputados razoável.

O risco para o PDT é que, em 2022, ele pode virar uma Marina Silva e, assim, levar para a sua cova política o partido que Brizola construiu suor e lágrimas.