Ciro expôs as vísceras do “Direitos Já”

Atualizado em 11 de setembro de 2019 às 19:26

Tão inócuo como a imensa maioria de seus participantes é o próprio “movimento” intitulado “Direitos Já! Fórum pela Democracia”, uma geringonça movida pelo mais genuíno oportunismo político de ocasião.

Idealizado por uma tal “esquerda” do PSDB – seja lá o que isso venha a ser – o tal Direitos Já! pariu um natimorto com pretensões de unir diversas siglas dos mais diferentes espectros políticos sob a desculpa de se criar uma “Frente Ampla” no combate ao governo Bolsonaro e em defesa da democracia brasileira.

Nada mais ilusório. Para não se utilizar outro termo.

Já no evento de lançamento em pleno TUCA, o teatro da PUC, em São Paulo, a estreia foi marcada por atos de censura em torno justamente daquilo que representa, para verdadeiros democratas, umas das mais justas, primárias e simbólicas das lutas pela retomada da democracia no Brasil: a liberdade do ex-presidente Lula.

Mas longe de ser uma aparente contradição, o veto ao Lula Livre encontra-se no ponto central de sua razão de existir.

Coalhado de personalidades políticas de moral no mínimo duvidosa de partidos políticos cujos desempenhos eleitorais nas eleições de 2018 residem em algum ponto entre o pífio e o medíocre, a ‘união” em torno de pautas supostamente democráticas tem muito mais a ver com o que acontecerá em 2022 do que propriamente com o que está acontecendo nesse momento no país.

Apenas a título de exemplo, basta mencionarmos a votação na Câmara dos Deputados que aprovou o regime de urgência para o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que prevê o acordo com EUA sobre a Base de Alcântara no Maranhão.

Primeira votação de importância estratégica para a defesa da soberania nacional realizada no Congresso após o lançamento do Direitos Já!, os mesmíssimos partidos da dita centro-direita que estavam lá jurando de pés juntos uma “forte oposição” a Bolsonaro, votaram alegremente com o governo. PDT e PSB, inclusive, não deixaram de dar uma generosa parcela de seus preciosos votos.

Ou seja, na prática, um verdadeiro engodo.

É ridículo ter que mencionar, mas a direita não possui qualquer interesse em barrar as pautas econômicas de Paulo Guedes ou as entreguistas de Jair Bolsonaro. O que a direita quer realmente é manter suas chances de retornar ao poder.

E nesses termos, para absolutamente todos os partidos ali presentes, a liberdade de Lula e tudo o que ela representa, incorre necessariamente no precoce naufrágio de seus projetos políticos para as eleições majoritárias de 2022.

Lula livre, seja como candidato, seja como cabo eleitoral do PT, reduz a percentuais próximos a zero a possibilidade de sucesso de praticamente todos os seus virtuais concorrentes.

E todos, sem exceção, têm plena ciência disso. Apesar de ninguém assumir.

Ninguém, quero dizer, à exceção do boquirroto Ciro Gomes.

Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na CBN, Ciro e a sua conhecida incontinência verborrágica entregou o que ele e o seu PDT estavam fazendo no TUCA.

Com a grosseria que lhe é tão peculiar, voltou a agredir Lula e o PT negando categoricamente qualquer interesse de sua parte na luta pela liberdade de um preso político (que, aliás, nega peremptoriamente ser um preso político).

Ciro, da mesma forma que os seus iguais, sabe que não é páreo para Lula.

Mantê-lo preso, portanto, ainda que injusta e ilegalmente, não só é um projeto político como um desejo pessoal.

E oportunista como só ele sabe ser, nada mais a propósito do que um “movimento” criado por gente de um dos seus antigos partidos cuja pedra filosofal abarca sob medida suas mais íntimas veleidades.

Ciro Gomes jamais foi um político de confiança, mas, crédito seja dado, dessa vez serviu pelo menos para deixar claro o que se passa nas vísceras do tal “Direitos Já! Fórum pela Democracia”.