
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro não tentou “obstaculizar” a transição de governo após perder para Lula nas eleições de 2022. Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o parlamentar ainda alegou que o então mandatário ainda tentou desmobilizar os caminhoneiros golpistas que contestavam o resultado do pleito.
“Foi tudo dentro da normalidade. O presidente, em minuto nenhum quis obstaculizar qualquer tipo de situação, para que a gente pudesse fazer a transição da melhor forma possível”, disse Ciro Nogueira em depoimento no processo da trama golpista.
Indicado como testemunha de três réus da trama golpista – Bolsonaro e os ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (defesa) -, o senador diz que pediu para que o então chefe fizesse uma declaração autorizando a transição de governo para desmobilizar a obstrução de rodovias após o resultado da eleição, em novembro de 2022.
“Eu precisava de uma fala do presidente sobre iniciar a transição para que os caminhoneiros parassem de obstruir as rodovias e eu solicitei para que ele fizesse uma declaração em conjunto para iniciar a transição e ele determinou dessa forma”, prosseguiu.

O ex-ministro da Casa Civil ainda diz que Bolsonaro ficou abatido e se isolou no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, após o resultado da disputa: “Ficou deprimido depois das eleições, teve um problema na perna e se recolheu no palácio. Não era nada que precisasse despachar com ele sobre transição. Nossa equipe fazia o que tinha de fazer. Comentava com o presidente como estavam transcorrendo algumas situações da transição”.
Na oitiva, Ciro Nogueira repetiu o que foi dito por Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura. Ele afirma que o então presidente nunca falou sobre um golpe de Estado em reuniões com aliados.
“Na primeira visita que eu fiz, em 15 de novembro, ele já tinha nomeado Ciro Nogueira para conduzir processo de transição. Jamais se tocou nesse assunto, se mencionou qualquer tentativa de ruptura”, disse o governador.
Ele ainda afirmou ao STF que Bolsonaro “estava triste, resignado” e que o tema “golpe” nunca foi uma pauta de seus encontros: “Único comentário era de lamentar o resultado e preocupado de que a coisa desandasse”.