Citado à farta por Fux, Celso de Mello precisa dizer se autoriza defesa do golpe em seu nome

Atualizado em 10 de setembro de 2025 às 18:09
Fux e Celso de Mello

O ministro Luiz Fux citou algumas vezes o ex-ministro do STF Celso de Mello, que se aposentou em 2023, em seu voto tétrico desta quarta-feira (10).

Mello passou anos como decano e é altamente respeitado por toda a corte. Fux chegou a confessar que conversa bastante com ele, mas depois ressalvou que não tratou especificamente do atual processo.

Deveria, talvez. Quem sabe Mello conseguiria demovê-lo desse papelão de hoje.

Em todo caso, Celso de Mello tem agora a obrigação de se posicionar sobre o uso de suas palavras para Fux defender golpistas.

Em entrevista ao Globo de dois dias atrás, Mello afirmou que a proposta de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro afronta a Constituição ao violar o princípio da separação de Poderes. Para ele, o projeto representa “um novo, inaceitável e ultrajante vilipêndio contra o Estado de Direito e a supremacia da ordem constitucional”.

O ex-decano também destacou que o STF não se curvará a pressões de potências estrangeiras, em referência a declarações recentes do governo dos Estados Unidos no contexto do julgamento de Jair Bolsonaro e dos demais réus da trama golpista.

Sobre a possibilidade de o STF considerar inconstitucional um eventual projeto aprovado, reforçou que atos de clemência, como anistia, são passíveis de controle judicial.

Após uma declaração criminosa do senador Flávio Bolsonaro, defendendo o “uso da força” para manter indulto concedido a seu pai, em caso de vitória da direita nas eleições de 2026, foi mais duro.

“O golpismo, agora, é advogado explicitamente, sem qualquer pudor, pela família Bolsonaro! Indulto ou anistia, nem que seja pelo ‘uso da força’. Em outras palavras, a obtenção desses benefícios constitucionais deve ser conquistada à outrance, a qualquer preço, por todos os meios, mesmo que isso signifique golpear as instituições democráticas”, disse à revista eletrônica Consultor Jurídico.

Celso de Mello ficou famoso por votos prolixos e, eventualmente, obscuros. Agora precisa deixar claro se concorda com Fux.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.