
Abalados pela operação da Polícia Federal (PF) de sexta-feira (18) sobre Jair Bolsonaro (PL), aliados do clã bolsonarista mantinham nos últimos dias a expectativa de que sanções contra Alexandre de Moraes e os demais ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como a revogação dos vistos, fossem aplicadas. Nos bastidores, eles diziam considerar que medidas do gênero seriam a única forma de saírem das cordas e superarem o desgaste político provocado pelo tarifaço de Donald Trump.
Segundo Malu Gaspar, do Globo, nas conversas sobre o assunto, os bolsonaristas porém, avaliavam sempre que isso dependeria de uma outra iniciativa de Trump, que ainda não veio: a retirada ou adiamento das tarifas para depois do prazo de 1º de agosto.
Na sexta, Moraes acatou uma representação da PF que viu risco de fuga do país por parte do ex-presidente e determinou que ele use tornozeleira eletrônica e seja submetido ao recolhimento domiciliar noturno. O ministro também determinou uma busca e apreensão na casa de Bolsonaro.
Horas mais tarde, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou a suspensão do visto de Moraes e outros sete ministros do Supremo “aliados” do magistrado. Interlocutores de Bolsonaro apostam em sanções financeiras e não contavam, até então, com a restrição dos documentos no horizonte.
Essas determinações foram feitas no âmbito do inquérito que apura se seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), cometeu os crimes de coação no curso do processo, obstrução à Justiça e ataque à soberania nacional no contexto das tarifas de Trump. Eduardo vinha defendendo o cancelamento de vistos entre as medidas para pressionar o STF.

Até a operação acontecer, toda a tensão no bolsonarismo se dava em torno do desgaste eleitoral provocado pelo tarifaço, que elevou a rejeição da população, abalou a popularidade do ex-presidente e rachou a direita brasileira.
Bolsonaro foi pressionado por empresários e lideranças do agronegócio que apoiaram suas candidaturas a pedir a Trump que a tarifa de 50% não fosse implementada em agosto, mas não cedeu aos apelos.
Ao invés disso, o ex-presidente, seus filhos e os aliados mais próximos preferiam que o governo Trump adotasse sanções contra o STF, por considerá-las mais efetivas e palatáveis aos seus seguidores.
O tarifaço não estava no roteiro original proposto por Eduardo à Casa Branca e a aliados de Trump no Congresso. Nas conversas nos Estados Unidos, o deputado e o aliado Paulo Figueiredo, que mantém um programa na internet e foi denunciado no âmbito da trama golpista, sempre defenderam sanções diretas contra Moraes como forma de intimidar o Supremo e medidas contra familiares do ministro, de outros magistrados do STF e de escritórios de advocacia de seus parentes.
Mas o presidente dos EUA optou por deflagrar a ofensiva a partir de uma medida comercial, jogando no colo da direita brasileira um duro passivo eleitoral em função dos impactos econômicos das tarifas.