O Clube de Tiro Ponta Negra (CTPN), em Manaus, onde cinco pessoas morreram após uma explosão destruir o local no último domingo (15), fez e faz campaha aberta em favor de Jair Bolsonaro (PL), foi palco há sete meses de uma morte com uma bala na cabeça que segue inexplicada até hoje, reverencia as armas como se fossem objetos sagrados e já cometeu crime eleitoral, ao postar uma foto de um revólver em cima de uma urna eletrônica, com o voto em Bolsonaro aparecendo na tela.
Além disso, um de seus ex-proprietários, que está entre as vítimas fatais da explosão, já foi preso em flagrante por crime ambiental (tráfico de animais silvestres).
Armas, religião e chá-revelação
O CTPN é o o maior campo de tiro indoor do Brasil: são 34 pistas cobertas, sala vip e loja própria de armas. Logo na entrada, pode-se ver um crucifixo feito com munição de metralhadora, onde os frequentadores costumam tirar fotos para postar em suas redes sociais.
Foi o que fez, por exemplo, a pastora Larissa Terra Nova e o seu esposo e também pastor Helcio Maia. O casal comemorou o Dia dos Namorados no clube de tiro. Eles compartilharam no Instagram uma imagem se beijando, com cada um segurando uma arma.
Larissa é filha do apóstolo René Terra, líder máximo do Ministério Internacional da Restauração (MIR), igreja com mais de 75 mil fiéis no Brasil e no mundo.
Não é apenas o casal de pastores que acredita que armas, Deus, amor e vida têm tudo a ver. O CTPN já foi palco de casamentos, declarações de amor e até de um chá-revelação. Em uma insólita gravação, um outro casal aparece aos beijos e de arma na mão, dando tiros com armas pesadas para revelar o sexo de seu futuro bebê. Veja abaixo.
Morte inexplicada com tiro na cabeça
No dia 2 de junho do ano passado, o atirador Rafael do Monte Rodrigues Seabra morreu com um tiro na cabeça enquanto disparava sua arma noCT. A Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros da Polícia de Manaus investiga até hoje se o fato ocorreu por suicídio ou por homicídio.
O estabelecimento classificou o caso como “incidente” e emitiu nota dizendo que seu cliente “resolveu tirar a próprisa vida”. Os familiares da vítima, porém, se recusam a crer nssta versão. Uma foto do homem morto no chão do clube foi divulgada por veículos de comunicação da capital, porém, ao memso tempo em que o estabelecimento informava, em nota, que Rafael morreu no Hospital João Lúcio, o que acabou gerando muitos questionamentos sobre o ocorrido.
No dia do ocorrido, o clube publicou uma postagem informando que o local estava fechado por motivos de “problemas técnicos”, e só depois explicou que o problema era um homem baleado e morto.
Campanha por Bolsonaro e pistola na urna eleitoral
O CTPN fez apologia ao armamento ao publicar foto da urna eletrônica com uma arma sobre o aparelho, no dia 2 de outubro do ano passado, data do primeiro turno das eleições. Na imagem, publicada no instagram da empresa, aparece o voto para Presidente, no caso para o então candidato Jair Bolsonaro.
Além do crime do registro do voto, proibido pela lei eleitoral, foi cometida a infração de uso e transporte de armas e munições no dia da eleição, vedado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em todo o país.
Esta não a primeira nem a única vez em que o clube mostrou seu apoio a Jair Bolsonaro. Postagens com frases como “povo armado jamais será escravizado” ou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” são comuns nas redes sociais do estabelecimento.
Ao longo do ano de 2020, o CTPN foi palco para a campanha do então candidato a prefeito de Manaus e vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM). O bolsonarista esteve no local em mais de uma oportunidade e prometeu que, se fosse eleito, iria levar a Guarda Municipal da cidade para trinar no Clube de Tiro Ponta Negra.
Proprietário morto em explosão já foi preso por crime ambiental
Nardier Pinheiro de Araújo, que era dono do clube de tiro e está entre as cinco vítimas fatais da explosão do último domingo, foi secretário pessoal do ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania). Além disso, no dia 14 de dezembro de 2018, foi preso em flagrante pela Policia Federal pelo cometimento de crime ambiental.
Araújo foi para a cadeia por, segundo o Ministério Público, “manter em cativeiro animais silvestres sem licença ou autorização do órgão ambiental competente”. O empresário acabou solto algumas semanas depois, mediante o pagamento de multa. Três meses após deixar a cadeia, Araújo obteve licença do Exército e abriu seu clube de tiro. Três anos depois, abriu ainda uma importadora de armamentos e munições, de todos os calibres.
