
A CNN Brasil publicou nesta quarta-feira, 30 de julho, uma entrevista com Brian Ballard, advogado e lobista ligado ao presidente dos EUA Donald Trump. Apresentado como conselheiro experiente para negociações internacionais, Ballard recomendou ao governo brasileiro que “ligue diretamente” para Trump para tentar reverter a tarifa de 50% imposta às exportações brasileiras. Ainda defendeu Bolsonaro e alertou para o risco do Brasil “virar uma Cuba ou uma Venezuela”, mantra da extrema-direita.
A emissora, no entanto, omitiu do público uma informação essencial: Brian Ballard é dono da Ballard Partners, firma americana de lobby que firmou uma parceria com a Esfera Brasil — organização comandada pelo lobista João Camargo, presidente do conselho da CNN Brasil e dono de 30% da emissora.

Em resumo: a CNN deu holofotes, sem qualquer menção ao conflito de interesses, a um empresário que mantém relações comerciais e políticas diretas com seu principal executivo.
Defesa escancarada de Trump e Bolsonaro e justificativa para interferir no Brasil
Questionado sobre a carta enviada por Trump a Lula, uma chantagem explícita se transformou no tarifaço, Ballard afirmou: “Vou dizer que este presidente é muito sensível e solidário com líderes políticos que são processados por aqueles que assumem o poder posteriormente. Ele acredita que isso está acontecendo no Brasil.”
A declaração tenta justificar a intromissão de Trump em assuntos internos de outra nação com base na ideia de que o golpista Bolsonaro estaria sofrendo “perseguição política”. O processo, no entanto, tramita no Poder Judiciário do Brasil. A CNN não esclareceu esse ponto nem questionou a distorção.
“Em muitos aspectos, isso é muito semelhante ao que aconteceu nos EUA. E sei que este presidente está muito preocupado em ver processos políticos contra ex-líderes de um país”, disse Ballard.

CNN omite sociedade entre lobista americano e CEO da emissora
A Ballard Partners e a Esfera Brasil vão atuar juntas oferecendo serviços de lobby e relações governamentais. O próprio Brian Ballard declarou, no comunicado oficial da parceria, que o objetivo é “ampliar o acesso ao mercado e às instituições públicas” para seus clientes.
João Camargo, dono da Esfera, também é presidente do conselho da CNN Brasil.
A Esfera se apresenta como um “think tank”, mas atua como espaço de articulação entre empresários, políticos e autoridades. Seus eventos reúnem ministros, parlamentares, membros do Judiciário e executivos do alto escalão. Os encontros ocorrem em locais como restaurantes, resorts e embaixadas — inclusive no exterior. Jornalistas recebem jabá para cobrir os convescotes e produzem matérias laudatórias. A Folha de S.Paulo, por exemplo, fez uma reportagem vergonhosa de um encontro empresarial no Guarujá. No pé, a informação de que a repórter viajou de graça.
Camargo rejeita o rótulo de lobista, mas admite que promove reuniões entre interessados e autoridades públicas para tratar de temas como leis e regulação econômica. Ele foi vice-presidente da Vasp no governo Quércia, de São Paulo, e assessor particular de Zélia Cardoso de Mello na presidência de Fernando Collor, até cair em meio ao escândalo PC Farias.
João Camargo e seus irmãos adquiriram a rede de rádios Transamérica, que passou a integrar o amplo grupo de emissoras controlado pela família. O portfólio inclui participações e controle sobre rádios como Alpha FM, Rádio Disney, 89 FM, BandNews FM, Nativa FM e Band FM.
Os ativos são administrados pela gestora 89 Investimentos, comandada por João Pedro Funaro Camargo, filho de João. Além do setor de mídia, a 89 também atua no mercado imobiliário, com investimentos em prédios residenciais e galpões logísticos.