CNN imita clássico de Gugu com PCC e “entrevista” chefe do Cartel de Sinaloa

Atualizado em 2 de outubro de 2025 às 16:18
O jornalista David Culver, da CNN, com o “líder” do Cartel de Sinaloa: me engana que eu gosto

Uma entrevista transmitida pela CNN na quarta (1º) com um suposto líder do Cartel de Sinaloa virou um clássico instantâneo.

O jornalista David Culver conversou no banco traseiro de uma SUV com um homem mascarado que se apresenta como membro da temida organização mexicana de El Chapo.

O roteiro é uma cascata. O personagem diz que já matou pessoas, mas que se considera “um homem bom”. Afirma que resolveu dar entrevista para desestimular jovens a entrar no crime. O efeito da voz do sujeito, a fantasia e o cenário fedem a picaretagem.

O ponto alto da palhaçada: o “narco” — de óculos escuros, boné e luvas — afirma que as políticas de fronteira de Donald Trump estão atrapalhando os negócios do cartel, encarecendo o preço da travessia de migrantes e dificultando o contrabando. Sim, claro que estão. Grande Donald.

A TV brasileira está fazendo escola.

Em 2003, o falecido apresentador Gugu Liberato colocou no ar uma “entrevista” com dois supostos integrantes do PCC. Os homens encapuzados ameaçavam autoridades e jornalistas, mas depois descobriu-se que não passavam de figurantes recrutados pela produção do programa “Domingo Legal”.

O escândalo gerou processos, multas, suspensão do programa e a credibilidade de Gugu — que nunca existiu, aliás.

Acreditar que um líder de cartel, em plena perseguição internacional, se sentaria diante de uma câmera para admitir crimes e ainda elogiar as políticas de um presidente americano é muito para a cabeça. A que ponto chegaram os EUA.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.