Coach “red pill” cobra até R$ 2500 para dizer a homens que mulheres também são seres humanos

Mito da "manosfera", Thiago Schutz atinge milhões no YouTube atacando feministas

Atualizado em 21 de fevereiro de 2023 às 0:06
Thiago Schutz no programa RedCast
Thiago Schutz no programa RedCast. Foto: Reprodução/YouTube

Em seu site oficial, o coach Thiago Schutz se define como “escritor, palestrante e apresentador”. Ele é da linha dos aconselhadores “red pill”, um grupo de masculinistas que deturpa um conceito que veio do filme Matrix (1999).

É autor dos livros “Das Red Flags”, “Red Pill 2.0” e “Pílulas da Realidade”. Schutz tem uma conta no Instagram chamada Manual Red Pill Brasil, que tem mais de 300 mil seguidores. Ele afirma que seus cortes no YouTube e em redes sociais ultrapassam 20 milhões de visualizações.

Thiago Schutz basicamente culpa as mulheres pelos problemas masculinos e dá conselhos para homens por WhatsApp.

O DCM entrou em contato com o coach para saber o preço de suas mentorias. No site oficial, ele diz que faz uma consultoria exclusiva, rápida ou em grupo, com duração média de uma hora.

Ele faz a “análise da situação apresentada, possíveis caminhos a serem tomados e possíveis resultados que podem ocorrer com base nos caminhos”.  

Schutz cobra R$ 1700,00 por uma única vez via chamada de vídeo e R$ 2500,00 pela consultoria presencial em São Paulo, capital, uma única vez. A duração da sessão é de até 1h30 e os preços via pix para demais localidades são negociáveis. 

O preço dos serviços do coach Schutz
O preço dos serviços do coach Schutz. Foto: Reprodução

Em um corte com mais de um milhão de visualizações, Thiago Schutz diz que o homem “tem que ter cuidado com essa mulher”, “linda por fora, mas que é uma bomba relógio por dentro”.

“Meu amigo, nesse caso você está fodido”, emenda. E explica: “Não tem outro resultado nesse jogo. Não tem como você mudar essa mulher. Não tem como mudar a percepção dela sobre ela. Não tem como você mudar a percepção dela com você, né?”.

“O grande segredo para os homens, sobretudo aqueles que consomem conteúdo red pill, não é deixar de se relacionar com a mulher, mas fazer um filtro com lentes vigorosas para saber que tipo de mulher ele traz para ele. Desde o casual até o relacionamento sério. Porque, cara, hoje até para dormir uma noite com uma mina, você tem que tomar cuidado para não tomar no cu e ir para a cadeia”.

Há outro corte com quase 700 mil visualizações em que Schutz fala sobre mulheres mais velhas. “A mulher que chega batendo no peito que chegou nos seus 30 [anos], que está passando dos seus 30, encara um homem. O cara mais seguro já pode escolher a menina mais jovem, mais gostosa. Ele tem um leque maior de possibilidades”.

“Vai ter a mina que vai baixar a régua dela. Passaram vários caras fodas na minha vida. Não peguei nenhum para namorar. Tomei no cu. Vou baixar a minha régua e encarar o que puder. E tem outro tipo de mulher que ela acha que merece os caras fodas. Essa é a mais chata de todas”.

“Porque ela acha que tem algo para pôr na mesa, ela já rodou na mão de todo mundo, e ela acha que um cara como você tem a obrigação de ficar com ela”, completa.

Thiago Schutz tem participação em programas como RedCast, Submundo Intelectual e Inteligência Magnética, somando algumas centenas de milhares de pageviews. Dá dicas até de “sinais” de quando uma mulher vai trair o homem.

Num vídeo, dá uma bronca no interlocutor inseguro, a quem chama de “bosta”, e explica que mulheres são apenas “seres humanos”. Num outro, fala das vantagens do “zé droguinha” sobre as moças. 

A teoria da red pill já está viralizando com figuras de extrema direita, como o streamer Monark e o youtuber Paulo Kogos. O ex-fundador do Flow diz que eles os “redpillados” estão distante dos “normies” – pessoas que aceitam as normas das sociedade e o avanço do feminismo.

O que é o “red pill”?

A teoria da red pill de masculinistas vem do filme Matrix, das irmãs trans Lilly e Lana Wachowski, na época irmãos. É inspirada na pílula vermelha entregue pelo personagem Morpheus, interpretado por Laurence Fishburne.

A pílula vermelha desperta o personagem Neo (Keanu Reeves) para o mundo real dominado por máquinas num futuro cyberpunk. O filme foi adotado pela comunidade nerd, fã de games e de ficção científica, e pelos incels – sigla para celibatários involuntários, jovens homens que têm dificuldade com mulheres.

Em maio de 2020, tentando se apropriar do filme Matrix, o empresário de extrema direita Elon Musk, atual dono do Twitter, disse para “pegar a pílula vermelha”. Ivanka Trump, a filha do ex-presidente americano, respondeu ao tuíte: “peguei!”.

A diretora Lilly Wachowski reagiu ao post: “fodam-se vocês dois!”. Sua irmã, Lana Wachowski, lançou o filme The Matrix Resurrections em dezembro de 2021. Embora não seja tão impactante quanto as demais produções, Resurrections é um recado para a extrema direita que tenta sequestrar a obra de ambas.

Um movimento que influenciou a onda “red pill” no Brasil

O masculinismo que ataca mulheres, sobretudo as feministas, não é novidade internacional e muito menos a onda red pill. Há um movimento online chamado Men Going Their Own Way (MGTOW) que ganhou popularidade na alt-right dos Estados Unidos desde 2001 através de um manifesto online.

Essa mobilização americana pode ser traduzida como “Homens seguindo seu próprio caminho”. O MGTOW é um movimento masculinista, anti-feminista, misógino e que prega a separação dos “verdadeiros homens” de mulheres que buscam seus direitos sociais. É conhecido como “manosfera”.

Foi propagado em 2014 por Milo Yiannopoulos, polemista famoso do site Breitbart News, de Steve Bannon, o ex-guru de Donald Trump, e de Andrew Breitbart. O movimento também se mobilizou em redes de incels como o Reddit e outros fóruns anônimos.

Thiago Schutz virou piada entre streamers de esquerda, como Cauê Moura e Luide Matos. Em lives bem-humoradas, Luide chama Schutz de o “cara de terno”. Cauê tira sarro do vídeo do coach reclamando que prefere tomar Campari ao invés de cerveja.

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