
O quarto dia de julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) foi dominado pelo voto de Luiz Fux, que se estendeu por mais de 13 horas e surpreendeu os colegas. O ministro abriu seu calhamaço logo às 9h, indicando que sua fala seria longa, mas a duração superou as expectativas e obrigou o cancelamento da sessão do plenário marcada para a tarde. Com informações do Globo.
A previsão inicial era encerrar os trabalhos ao meio-dia, com chance de prorrogação por mais uma hora. No entanto, o voto de Fux estava longe de terminar. A sessão precisou ser suspensa três vezes: uma pausa de 10 minutos pela manhã, o intervalo de almoço entre 13h e 14h e um novo hiato à tarde.
Durante uma dessas pausas, no espaço conhecido como “sala de lanches”, os ministros receberam a visita do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e do vice, Edson Fachin. O gesto foi interpretado como apoio diante da importância do julgamento e para reduzir o clima tenso. Segundo relatos, Fux ficou poucos minutos e logo voltou ao gabinete.
🙄🙄🙄 11 horas depois de começar o seu voto, Fux pede mais 10 minutos de intervalo e a galera na audiência reclama de forma audível
Além, Cármen Lúcia e Flávio Dino deixaram claro seu descontentamento com o colega (principalmente Dino)
Tag yourself: quem te representou melhor? pic.twitter.com/ugbrZxfkZV
— Camarote da República (@camarotedacpi) September 10, 2025
Cochichos e bilhete trocado
Enquanto Fux lia suas divergências em relação a Alexandre de Moraes, os ministros buscavam manter a concentração com sucessivos cafés, água e até refrigerante — Cristiano Zanin tomou um copo de Coca-Cola com bastante gelo por volta das 18h50.
Já Cármen Lúcia e Moraes trocaram cochichos discretos e até um bilhete. Os dois permaneceram sozinhos em plenário durante um dos intervalos e conversaram em voz baixa, em contraste com a monotonia do longo voto.
Tietagem
Em um dos intervalos, o advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, aproveitou para tietar o deputado petista Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara. Eles trocaram abraços e conversaram de forma animada.
Mais tarde, por volta das 20h30, Flávio Dino desceu do plenário para cumprimentar o advogado de Mauro Cid, Cézar Bitencourt, a quem chamou de “mestre”. O ministro também brincou com o advogado Jair Alves, dizendo que gostaria de chegar “ao mesmo tamanho” dele, numa referência à forma física magra do defensor.
Um dos votos mais longos da história
Diferente dos dias anteriores, quando a plateia reagiu com risos e até ministros se permitiram comentários, a quarta sessão foi marcada exclusivamente pela voz de Fux.
Fux defendeu a absolvição de Jair Bolsonaro (PL) e de outros réus, contradizendo centenas de decisões anteriores. O magistrado sequer reconheceu a existência da tentativa golpista, mas acabou se contradizendo ao condenar o tenente-coronel Mauro Cid por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
A decisão surpreendeu até os bolsonaristas. A expectativa era de que Fux apenas divergisse do relator Alexandre de Moraes na dosimetria das penas, unificando crimes pelo princípio da consunção. No entanto, ele foi além: votou pela nulidade do processo e questionou a competência do STF para julgar o caso, posição contrária à que havia defendido anteriormente.
🚨‼️ Fux vota pela absolvição de Bolsonaro e outros réus em caso de dano ao patrimônio público. pic.twitter.com/vffzfTvr3m
— Ministério da Fofoca (@MinFofoca) September 10, 2025