“Colocaram um monstro na presidência”: congressistas reagem à fala de Bolsonaro

Atualizado em 29 de abril de 2020 às 12:55
“Monstro”

O descaso com que o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou sobre as novas 474 mortes por covid-19 registradas em 24 horas no país nesta última terça-feira (28) foi duramente criticado por parlamentares dos mais diferentes partidos. Em resposta ao comentário de um jornalista, que afirmava que o Brasil havia ultrapassado o número de vítimas registrado na China, país de origem da pandemia, o presidente declarou: ‘E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre’.

“Brasil chega a 474 novos casos em 24 horas; supera a triste marca de mais de 5 mil mortos. E o que diz o estúpido que ocupa ainda a cadeira de presidente? ‘E daí?’, pergunta desdenhando. Colocaram um monstro na presidência. E agora? É uma questão de saúde tirá-lo da presidência”, definiu o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA), em tom de indignação, citando os números oficiais divulgados ontem pelo Ministério da Saúde.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado federal Helder Salomão (PT-ES) listou as ações que caberiam ao presidente. “’E daí, o que posso fazer?’ Construir hospitais, comprar respiradores, construir leitos de UTI, valorizar os trabalhadores da saúde, comprar EPIs [Equipamentos de Proteção Individual], pagar o auxílio de R$ 600, manter empregos, cuidar das empresas, respeitar a dor das pessoas, parar de falar besteiras. Que tal?”, sugeriu.

Colega de bancada, Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que o PT debaterá ainda nesta quarta-feira (29) formas de dar sequência ao impeachment do presidente. “Hoje a partir das 9 horas, tem reunião da direção nacional do PT com Lula e [Fernando] Haddad. Vamos debater os caminhos jurídicos e políticos, para dar consequência ao Fora Bolsonaro. Definiremos também novas ações, que obriguem o governo a pagar a renda básica emergencial”, declarou em suas redes sociais.

Deputados do PSOL – partido que também já protocolou na Câmara um pedido de afastamento de Bolsonaro – Ivan Valente (SP) e Marcelo Freixo (RJ) não pouparam nas críticas. “Bolsonaro é um genocida. Enquanto brasileiros perdem suas vidas e suas famílias choram, Bolsonaro debocha”, disse Freixo. “Não bastasse sabotar o combate ao coronavírus, Bolsonaro trata com desdém o número de mortos. É desse tipo de canalha que estamos falando, incapaz de enxergar a realidade, só preocupado em defender a si e a seus filhos bandidos. O ‘E daí?’ revela a tragédia em que o país se meteu”, definiu Valente.

Além do descaso, no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) criticou ainda tentativa do presidente de apoio dos partidos de Centro. “Já sabemos que Bolsonaro não vai combater a corrupção, ele abraçou o Centrão. Já sabemos que ele é incapaz de cuidar da Educação, da Economia e da Saúde. Mas só piora. Mais de 5 mil mortos e ele não demonstra sequer respeito. Que tipo de ser humano ignora a dor dos semelhantes?”, questionou.

Mas, mesmo entre os possíveis apoiadores, a fala de Bolsonaro não foi poupada. “Não é difícil entender quem votou em Bolsonaro em 2018. Mas é muito, muito difícil entender quem ainda admira e defende cegamente um presidente tão incapaz, incoerente e boçal”, disse Thiago Mitraud, deputado federal eleito pelo Novo de Minas Gerais.

Nesta terça, o Brasil ultrapassou a China em mortes pela covid-19 e já é o nono país em total de óbitos no mundo, além de ser o terceiro em número de mortes por dia. Apesar disso, Bolsonaro segue em campanha para acabar com medidas de isolamento social preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a expansão do vírus.