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Com 27,6 milhões sem emprego, Brasil vive sua Grande Depressão

Desemprego

Com 27,6 milhões de trabalhadores sem emprego, segundo divulgou na última quinta-feira o IBGE, o Brasil vive hoje sua Grande Depressão, semelhante àquela que atingiu a economia dos Estados Unidos nos anos 1930 e se espalhou por toda a Europa.

Como nos Estados Unidos, onde as taxas de desemprego subiram de 9% em 1930 para 16% em 1931 e 25% em 1933, aqui no Brasil o recrudescimento do desemprego foi muito rápido.

Lá e cá perdeu-se no período de apenas três anos um quarto da força de trabalho.

Em 2014, último ano do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, a taxa anual de desemprego fechou em 6,8% e foi a 8,5% em dezembro de 2015. Três meses depois, chegou a 10,9%, até fechar o primeiro semestre de 2016 em 11,3%, somando 11,6 milhões de desocupados.

Dilma tinha sido apeada do poder 49 dias antes, em 12 de maio.

Desde então, o governo Michel Temer, com apoio do PSDB, Centrão (PP,PR, PRB, DEM e Solidariedade), PTB e PPS, os mesmos que compõem a coligação do candidato Geraldo Alckmin à presidência da República, mais o MDB, acrescentou outros três milhões de desempregados formais à desorientada economia brasileira.

Com esse aumento do desemprego, a renda média do trabalhador empregado também despencou. De 2016 para 2017, esse trabalhador brasileiro perdeu em média R$ 31,00 reais por mês, quando a sua renda caiu de R$ 2.268,00 para R$ 2.237,00, de acordo com o IBGE.

Mercado interno encolheu

Diferentemente, porém, das causas da depressão da economia norte-americana, vítima da superprodução pelo encolhimento do mercado consumidor europeu, a economia brasileira foi vítima do encolhimento do seu próprio mercado interno, numa ação planejada e desenvolvida pela oposição ainda na segunda metade do primeiro governo de Dilma Rousseff.

Na metade do seu segundo ano de governo, em junho de 2013, Dilma enfrentou uma série de manifestações de rua convocadas pela internet e fomentadas pela direita, sob a liderança da FIESP e dos nascentes MBL e Vem Pra Rua, financiados pela poderosa federação dos industriais paulistas.

Ao perder suas empregadas domésticas, a classe média aderiu a passeatas e aos panelaços, reeditando as marchas da família com Deus pela liberdade que levaram ao golpe militar de 1964.

Sob o falso pretexto de combater aumento de passagens urbanas, o movimento tinha por objetivo real a campanha pelo não pagamento de impostos e a destruição das conquistas sociais alcançadas desde o primeiro governo Lula, com destaque para o aumento do salário mínimo e a situação de pleno emprego que valorizavam o trabalhador.

Aécio, o incendiário

Vestindo a fantasia de Nero que seu avô, Tancredo, moldou para Maluf, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) saiu a incendiar o Brasil, e levou para a campanha eleitoral de 1974 os protestos de junho do ano anterior. Com ataques a Dilma abaixo da linha da cintura, anunciava um caos econômico que intimidou o consumidor, manteve o comércio estocado, paralisou a indústria e trouxe o aumento do desemprego.

Derrotado, Aécio prometeu paralisar o Congresso, promessa que cumpriu ao patrocinar as pautas bombas que o deputado Eduardo Cunha (MDB-R) orquestrava da sua poltrona de presidente da Câmara – como o aumento dos salários do Poder Judiciário, sem previsão orçamentária – até  que Dilma fosse derrubada.

Com a queda de Dilma, os golpistas começaram a perder o controle sobre a crise que inventaram e Temer e seus apoiadores ofereceram ao país a lorota de uma reforma trabalhista como panaceia para a solução do problema do desemprego.

Reforma trabalhista no lugar do New Deal

Ao contrário de um New Deal que o presidente Franklin Delano Roosevelt empreendeu nos Estados Unidos, em vez de recuperar a economia o objetivo dos golpistas era exatamente expandir o desemprego para fragilizar cada vez mais a classe trabalhadora e assim facilitar a revogação dos seus direitos, precarizando a legislação trabalhista  para baratear ainda mais a mão de obra brasileira, já de custo chinês.

Acostumada a pagar salário-mínimo equivalente a 70 dólares até o final do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a classe empresarial apoiou o golpe por que não suportava ver os governos petistas elevarem esse mesmo salário para mais de 300 dólares, mesmo que com isso ganhassem muito dinheiro com a expansão do mercado interno.

Aprovada a reforma trabalhista, a jornalista Miriam Leitão, porta-voz do golpe para assuntos de economia, usou todos os seus espaços no Globo e na Rede Globo para pregar que oBrasil sempre teve uma legislação trabalhista complicada. “Isso dificultava a criação de empregos, principalmente nas crises. O custo da contratação é alto e a informalidade também”, dizia para justificar a reforma, escondendo os 12 milhões de empregos formais criados nos governos do PT sem mexer na CLT.

Na semana passada, ela levou para seu programa de entrevistas na Globonews o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, para oferecer o empreendedorismo como alternativa à uma economia onde a falta de trabalho atinge 27,6 milhões de pessoas, um quarto da sua força de trabalho. Na verdade, nunca se empreendeu tanto no Brasil. Em toda esquina há um trabalhador desempregado vendendo alguma coisa para levar sustento para sua família. É o novo empreendedor brasileiro.

Geraldo Seabra

Jornalista, com passagens por Estadão, Veja, O Globo, Correio Braziliense, entre outros. Email: gseabra@uol.com.br

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