
Aliados do presidente Lula (PT) temem que a aliança que partidos do centrão costuram em torno de uma candidatura de direita para 2026 prejudique a pauta do governo até o fim do mandato. O medo é que, unidos em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, parlamentares do grupo se juntem ao bolsonarismo e travem a agenda do Executivo, em especial a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Nesta semana, as cúpulas do Progressistas (PP) e do União Brasil anunciaram o rompimento com o governo petista. As legendas determinaram que “detentores de mandato” deixem seus cargos na Esplanada até o próximo dia 30, sob risco de expulsão.
Segundo a Folha de S. Paulo, governistas reconhecem que a saída desses dois partidos pode dificultar aprovação de projetos, já que o governo reduziria sua base oficial para 259 deputados – apenas dois a mais do que a metade.
Uma amostra dos efeitos do desembarque foi vista no Senado, quando senadores do PP e do União Brasil votaram contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que cria novas regras para os precatórios. A proposta, que permite ao governo um gasto extra de R$ 12,4 bilhões em 2026, foi aprovada com o número mínimo de votos necessários.
Integrantes do governo temem que o avanço da articulação pela anistia aos condenados do 8 de Janeiro e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atropele a pauta, já que o debate impossibilita o andamento de outras matérias no plenário da Câmara.

Há também uma avaliação entre aliados do presidente de que os partidos de centro poderão atuar contra a agenda do governo, justamente para evitar que o petista possa ter ganhos eleitorais com essas medidas.
No Congresso, articuladores do governo já admitem, sob reservas, que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deve sucumbir à pressão para incluir a anistia na pauta. O esforço, agora, será para convencê-lo a levar o projeto do IR a voto antes da anistia, sob o argumento de que a aprovação de uma medida popular será importante para a imagem da Câmara e do próprio Motta.
No Planalto, a orientação será de oposição à anistia. A avaliação de aliados de Lula e do próprio presidente é que a aprovação dessa proposta seria uma vitória da direita radical e representaria uma rendição a Trump, já que o governo estadunidense impôs sanções econômicas ao país em resposta ao julgamento de Bolsonaro no STF.
Líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ) afirma que essa votação será um divisor de águas para o governo. “O governo tem um compromisso de defesa das instituições democráticas, do STF. O deputado que votar pela urgência estará optando pela saída do governo”, afirmou.
Em reuniões políticas e atividades públicas, Lula tem se manifestado contra a anistia. “Nós estamos vendo agora os falsos patriotas nos EUA pedindo intervenção do presidente Trump no Brasil. Os caras que fizeram campanha embrulhados na bandeira nacional, dizendo que eram patriotas, agora estão embrulhados na bandeira americana, pedindo para o Trump intervir no Brasil”, disse o petista.
No centrão, a estratégia será pela conclusão desse debate ainda neste ano, para não contaminar o calendário eleitoral de 2026. A tática é para que temas espinhosos, como sanções econômicas e anistia para quem atentou contra a democracia, estejam longe da disputa para que Tarcísio ou outro candidato da direita não se vejam obrigados a se justificar para os eleitores.