
O deputado federal Ricardo Salles (PL‑SP), ex‑ministro do Meio Ambiente, vem realizando uma série de palestras em cidades do interior paulista. As apresentações contam com o apoio da Heritage Foundation, think tank conservador dos Estados Unidos, conhecido por influenciar políticas públicas alinhadas a pautas contrárias a direitos sociais, ambientais e civis.
Em abril, Salles esteve em Araraquara, onde falou sobre “agronegócio e meio ambiente” em um evento promovido pela Associação dos Fornecedores de Cana (Canasol). A movimentação faz parte de uma agenda política que mira a eleição de 2026, quando o ex-ministro cogita disputar o governo de São Paulo ou uma vaga no Senado.
Em 2023, o Ministério Público Federal denunciou Salles por envolvimento em um esquema de favorecimento à exportação de madeira de origem ilegal. Ele responde na Justiça Federal por crimes como advocacia administrativa, obstrução de fiscalização ambiental e formação de organização criminosa.
Apesar do processo, Salles tem recebido apoio público de setores do partido Novo e da Heritage Foundation, com quem compartilha posicionamentos sobre regulação ambiental, educação e papel do Estado.
A atuação do bolsonaista e a influência de grupos como a Heritage Foundation dialogam com iniciativas que têm impacto direto sobre direitos previstos na Constituição de 1988. Entre eles:
Artigo 225 – Direito ao meio ambiente equilibrado: Durante sua gestão, Salles enfraqueceu estruturas de fiscalização ambiental, como o Ibama e o ICMBio, com impactos diretos no aumento do desmatamento.
Artigo 5º – Igualdade e não discriminação: A fundação norte-americana apoia projetos que questionam direitos de populações LGBTQIA+ e criticam legislações de proteção a minorias. No Brasil, esse discurso tem influenciado propostas legislativas que limitam a abordagem de gênero nas escolas.
Artigo 206 – Pluralismo de ideias na educação: A agenda defendida por esses grupos inclui tentativas de restringir conteúdos educacionais sobre diversidade, racismo estrutural e direitos humanos.
Nos últimos anos, iniciativas alinhadas a essa agenda resultaram em mudanças concretas: Redução da capacidade de fiscalização ambiental, exclusão de conteúdos sobre diversidade dos currículos escolares e, entre outras, a apresentação de propostas de emenda constitucional para limitar o poder do STF e de outros órgãos de controle.
A Heritage Foundation é uma das responsáveis pelo “Project 2025”, plano que propõe reestruturação institucional do governo dos EUA com redução de agências reguladoras e concentração de poder. A fundação abriga nomes como Jason Richwine, que defendeu teses sobre imigração com base racial, e Hans von Spakovsky, que questiona a integridade eleitoral sem apresentar provas.
No Brasil, figuras como Salles replicam parte dessa cartilha com apoio de partidos e financiadores locais.
Enquanto a atuação de Eduardo Bolsonaro e aliados no exterior tem recebido atenção do Congresso e do Judiciário, o avanço interno de agendas semelhantes passa sem o mesmo nível de escrutínio. O caso de Salles revela como essas articulações também estão em curso no país, com apoio internacional e respaldo político local.