Com Bolsonaro, os evangélicos mandam um recado ao mundo: somos contrários aos direitos humanos. Por Hermes Fernandes, pastor

Atualizado em 9 de outubro de 2018 às 16:17

Publicado no Facebook do pastor Hermes Fernandes

Bolsonaro e seus filhos sendo batizados pelo Pastor Everaldo, em 2016

A igreja nem sempre esteve do lado certo da história. A igreja apoiou o Nazismo na Alemanha, apoiou a Klu Klux Klan e a segregação racial nos Estados Unidos, apoiou o apartheid na África do Sul e o golpe militar no Brasil em 1964. Mas sempre houve um remanescente que não rendeu ao Baal de seu tempo.

Deus sempre levanta profetas que são tachados de perturbadores da ordem, inimigos do status quo. Na Alemanha de Hitler, Ele levantou Bonhoeffer. Nos Estados Unidos, Martin Luther King. Na África do Sul, Desmond Tutu. No Brasil, Dom Helder Câmara e tantos outros pastores e profetas que serviram de farol a uma geração mergulhada nas trevas da ignorância.

A história parece se repetir. Mais uma vez a igreja se posiciona ao lado do autoritarismo, de forças retrógradas e reacionárias, e faz coro com um discurso de ódio e preconceito contra as minorias.

Ao escolher apoiar à candidatura de Bolsonaro, o povo evangélico mandou um recado ao mundo: somos contrários aos direitos humanos. Consegue ver a gravidade disso e o quanto isso vai na contramão da proposta do verdadeiro Messias? Agora nos vemos numa inusitada encruzilhada. Algo semelhante ao que se via nos dias de Cristo. Imagine se os discípulos vivessem numa democracia e tivessem que escolher entre Herodes e Pilatos. Obviamente, eles escolheriam Herodes. Afinal, ele havia reformado o templo de Jerusalém, tornando-o mais suntuoso do que nos dias de Salomão. Embora não fosse propriamente judeu, ele poderia ser considerado um “parente” pois era Edomita. Bem diferente de Pilatos que era romano e não conhecia seus costumes e tradições.

Por incrível que pareça, Jesus nunca dirigiu uma única critica a Pilatos, nem mesmo questionou os altos impostos que eram remetidos à César. Pelo contrário, Jesus reconheceu sua autoridade como vinda do alto. Mas a Herodes, que tinha a simpatia de alguns de seus discípulos, Jesus chamou de “aquela raposa” e ainda os advertiu pra que não se deixassem contaminar com seu fermento. O que faz o fermento? Leveda a massa, fazendo-a crescer exponencialmente.

É justamente isso que tem levado muitos líderes evangélicos a juntarem forças em apoio à Bolsonaro. Eles querem crescer a todo custo em influência na sociedade, demonstrar força, construir seus impérios particulares. Para isso, são capazes até de lançarem mão de fake news (o novo fermento de Herodes!). Sacrificam a vergonha e a credibilidade do evangelho no altar da conveniência e dos interesses escusos. E por falar em Pilatos, bem faremos se não lavarmos as mãos numa hora tão crucial como a que vivemos.

Por isso, sigo posicionando-me contra o fascismo, o autoritarismo, o fake news, o moralismo hipócrita, a xenofobia, a misoginia, a homofobia e tudo que atente contra a liberdade e a dignidade humanas. E é por amor a Jesus que os conclamo a se posicionarem pelo oprimido, pelo excluído, pelas minorias, pelo pobre, pelo negro e índio, pela mulher, e por todos os discriminados. Reconheço que não será fácil, pois quem mais nos criticará serão nossos próprios irmãos.

Mantenhamo-nos firmes. Pode não ser o melhor dos cenários, mas nem por isso podemos nos esquivar.