
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preso e fora do cenário público, dirigentes e líderes do PL já articulam estratégias para compensar sua ausência na eleição de 2026. A avaliação interna é que a presença do ex-presidente, ainda que simbólica, continuará sendo decisiva para o desempenho da direita.
Entre as ideias discutidas, segundo a Folha de S.Paulo, estão o uso de figuras de papelão em eventos, a multiplicação de imagens do ex-presidente em atos partidários e até a criação de conteúdos com inteligência artificial para simular declarações de apoio.
A proposta de empregar IA chegou ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, mas divide o PL. Integrantes temem que a tecnologia permita que candidatos não apoiados por Bolsonaro criem vídeos sugerindo apoio inexistente. Também há receio de que adversários usem o recurso para atacar candidatos bolsonaristas, classificando publicações como enganosas, mesmo quando sinalizadas como peças artificiais.
Juliano Maranhão, professor de Direito da USP e estudioso de IA, afirma que a prática seria permitida pelo TSE desde que o material deixe claro que foi gerado artificialmente. Ele alerta, porém, que o conteúdo não pode induzir o eleitor a acreditar que Bolsonaro está solto.
“Não poderia ser usada para enganar o eleitor. Pelo fato de estar preso, se passar a impressão contrária, aí poderia ser questionado se não estaria desinformando, passando uma percepção equivocada”, explicou em entrevista à Folha. Caso candidatos tentem simular apoio sem autorização, o PL pode acionar a Justiça para retirar o conteúdo do ar.

A ausência de Bolsonaro já estimulou apoiadores a divulgar montagens e banners. O vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), publicou imagens manipuladas ao lado do ex-presidente para reforçar sua proximidade política.
Em eventos, multiplicaram-se representações de papelão em tamanho real. Na vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em 22 de agosto, ele discursou ao lado de uma dessas figuras, dias antes da prisão preventiva do pai.
Dirigentes do PL avaliam que os candidatos mais dependentes do ex-presidente são aqueles com pouca base territorial e que construíram projeção principalmente nas redes sociais.
Nos primeiros meses de 2024, Bolsonaro visitou mais de 20 cidades nos três maiores colégios eleitorais (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) reforçando a influência que sua presença costuma exercer em campanhas locais.
A expectativa inicial era que Michelle Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ocupassem parte do espaço deixado pelo ex-presidente, como fizeram em 2024.
No entanto, ambos estarão em campanha própria no próximo ano, reduzindo o tempo para atuar como cabos eleitorais: ele tentará a reeleição e ela deve disputar o Senado pelo Distrito Federal. A leitura interna é que Michelle e Nikolas poderão atuar com mais força apenas no segundo turno.
Nos bastidores, aliados afirmam que a prisão já era vista, desde o início do ano, como um fator capaz de comprometer o desempenho da direita nas urnas. A narrativa de perseguição política também vem sendo explorada como justificativa para a pressão do centrão por um nome que possa suceder Bolsonaro no comando do bolsonarismo nacional, permitindo que a campanha comece ainda em 2025.
O debate sobre sucessão divide o bloco. Flávio Bolsonaro, embora herdeiro político natural, é avaliado internamente como um nome de alta rejeição. Tarcísio de Freitas (Republicanos), por sua vez, aparece entre aliados como uma possibilidade mais palatável ao eleitorado.
Um integrante do partido afirma que Tarcísio “é visto como uma evolução do bolsonarismo”, com histórico de proximidade suficiente para herdar o espólio político, mas sem a rejeição acumulada da família Bolsonaro.