Com direita brasileira em crise, 2022 se projeta ainda mais favorável à esquerda. Por Emir Sader

Atualizado em 17 de novembro de 2020 às 21:14
Bolsonaro, Huck e Doria

Todos os setores que compõem a direita brasileira – dos moderados aos extremistas – estavam conformados de continuar a se subordinar à liderança do Bolsonaro e contar com ele como seu candidato em 2022, para tentar de novo, de uma forma ou de outra, derrotar o PT. O aumento do nível de apoio do Bolsonaro com o auxilio emergencial confirmava, para os setores que pretendiam ter uma candidatura alternativa, que seria quase impossível disputar com ele no primeiro turno.

Quando, de repente, o governo voltou a entrar em crise, pelo acúmulo de uma série de acontecimentos que afetam diretamente a Bolsonaro, desequilibrando-o. Antes das eleições dos Estados Unidos, já se havia difundido uma serie de acusações sobre o seu filho Flávio, em que parece que o cerco vai se fechando cada mais sobre ele.

Em seguida, vieram as eleições norte-americanas, que pegaram desprevenido Bolsonaro, que acreditava piamente nas bravatas do Trump de que seria reeleito facilmente. Publicamente, Bolsonaro ainda não deu o braço a torcer, ao não reconhecer a vitória de Biden, mas já assimilou o golpe. Uma derrota com consequências em vários planos para ele. Em primeiro lugar, deixa de contar com os Estados Unidos no plano internacional, o que já representa muito, pelo isolamento que representa para a política externa do governo.

Em segundo, significa o fracasso do estilo político de Bolsonaro, que fez com que Trump se some à restrita lista de presidentes norteamericanos que não conseguem se reeleger. Ainda mais que essa derrota pega o Bolsonaro no momento em que ele, claramente, submete tudo a seu projeto de reeleição.

Em terceiro lugar, a forma da derrota do Trump, em que a oposição fez da campanha eleitoral um referendo sobre o Trump, reunindo a todos os setores que o rejeitam, dos mais moderados – até mesmo do Partido Republicano – aos mais radicais – a esquerda do Partido Democrata. Uma situação que Bolsonaro também vive, de poder ser confrontadas suas palavras com a realidade desastrosa do seu governo, que pode ser seguida pela oposição brasileira.

Em quarto, as pressões que o novo governo norteamericano exercerá sobre o brasileiro, a começar pelas questões de proteção da Amazônia, junto com temas de direitos humanos e de política internacional. Não será fácil a vida do governo a partir da posse do novo governo norteamericano, em 20 de janeiro de 2021.

A isso se somam os desastrosos resultados eleitorais para Bolsonaro.  Depois de dizer que não participaria das campanhas, ele acabou participando, e da maneira mais desastrosa. Os resultados fizeram dele o maior perdedor, com o fortalecimento de todos os setores da oposição, tanto da direita como da esquerda.

A direita também acusou a mudança da situação política, que promete deterioração ainda maior do governo. O PSDB, sem surpresas, reafirma que João Doria será seu candidato. O DEM, que se fortaleceu nas eleições, começa a preparar a candidatura de Luciano Huck. E o PSD, que foi quem mais elegeu candidatos nas eleições, afirma que terá candidato próprio. Tudo enfraquece o bloco com que poderia contar Bolsonaro, que depende cada vez mais do Centrão, aliado incerto conforme se aproximem mais as eleições.

Paradoxalmente, quando há um espirito unitário na esquerda, é a direita que passa a sofrer com suas divisões. A direita entra abertamente em crise. Bolsonaro depende do que consiga fazer na economia, que está em péssimas condições.

2022 se projeta como ainda mais favorável à esquerda.