Com discurso dúbio, Tarcísio evita STF e expõe distanciamento estratégico de Bolsonaro na Paulista

Atualizado em 29 de junho de 2025 às 17:48
Tarcísio não usa a amarelinha Imagem: reprodução

No ato bolsonarista realizado neste domingo (29) na Avenida Paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mais uma vez reforçou sua postura calculada dentro do grupo de extrema-direita.

Apesar de elogiar publicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e criticar duramente o governo Lula, o governador evitou mencionar o Supremo Tribunal Federal (STF) — justamente o foco central da mobilização.

A omissão, mesmo que num ato esvaziado e que beirou o ridículo, com míseros 12 mil golpistas, reforça a percepção de que Tarcísio articula em outra direção, mirando 2026.

Enquanto aliados de Bolsonaro atacavam diretamente o STF e pressionavam pela anistia de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, Tarcísio preferiu um discurso genérico.

Falou que Bolsonaro “sempre olhou para o andar de baixo” e acusou o governo Lula de jogar tudo “na lata do lixo”, sem sequer citar o Judiciário ou a delação de Mauro Cid, que motivaram o ato.

Para analistas políticos, o silêncio é sintomático: o governador evita se vincular a uma agenda que pode tornar Bolsonaro inelegível e, ao mesmo tempo, pavimenta seu próprio caminho ao Planalto.

Essa estratégia não é nova.

Tarcísio já havia sinalizado distanciamento sutil ao se recusar a usar a camisa da Seleção Brasileira — símbolo clássico do bolsonarismo — optando por trajes discretos, em tom azul, e discursos institucionais.

Nos bastidores, integrantes do Republicanos e parlamentares do centrão relatam que o governador trabalha para se consolidar como o herdeiro “moderado” do eleitorado conservador, caso Bolsonaro não consiga disputar as eleições de 2026.

A ambiguidade do governador tem gerado desconfiança em setores mais ideológicos da direita, que cobram uma postura mais firme diante do que consideram perseguição judicial.

Ao se manter distante da pauta da anistia — que poderia resgatar politicamente Bolsonaro, mas também mantê-lo como concorrente direto —, Tarcísio adota um jogo de contenção e conveniência.

Enquanto o bolsonarismo perde força nas ruas, com atos esvaziados e uma base cada vez mais dispersa, Tarcísio aposta no desgaste do ex-presidente para avançar com seu próprio projeto.

Comedida em público, sua atuação silenciosa nos bastidores parece mirar um único objetivo: ser o nome da direita viável e palatável em 2026.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo