Com espada em punho, líder do MBL que deu calote em faculdade apresenta o “Missão”

Atualizado em 1 de dezembro de 2025 às 11:51

Com uma espada em punho e rodeado por estandartes que remetem ao imaginário romano e ao nazismo, Alexandre Santos virou o centro da performance que marcou o primeiro grande evento do MBL após a criação do partido Missão. No palco, declarou que a alternativa da nova legenda é “vencer ou morrer”, sintetizando a estética e o discurso de um extrema-direita que quer substituir o bolsonarismo.

Alexandre, conhecido como Salsicha, estudou comunicação social na FAAP, mas deixou a faculdade devendo meses de mensalidade, processo que a instituição levou à Justiça e nunca conseguiu citá-lo. Apesar do histórico, ele virou símbolo do tipo de militância que o MBL quer exibir no Missão: jovem, teatral, ideologicamente aguerrida e distante da figura “do jovem de terno”, rejeitada por Arthur do Val, ex-deputado estadual em SP cassado.

O festival reuniu 3,6 mil pessoas em galpões na Zona Leste de São Paulo, misturando painéis, debates, sessões de autógrafos e venda de souvenires. Renan Santos, irmão de Alexandre e “pré-candidato à Presidência”, dividiu o palco com nomes ligados à segurança pública. Xingou Flávio Bolsonaro.

O debate girou em torno de ocupação de territórios, letalidade policial e enfrentamento às facções. Chacina, chacina, chacina. Em outro espaço, o “Valete”, integrantes do movimento questionavam o conceito de democracia e culpavam Judiciário, PT e expansão do Estado por tudo o que veem como autoritário no país.

Com a homologação do Missão pelo TSE, o MBL tenta se afirmar como partido de extrema direita com projeto próprio. Amanda Vettorazzo, vereadora em São Paulo e futura filiada, citou o “livro amarelo” que reúne as diretrizes da legenda, defendendo industrialização, “desfavelização” e métricas de desempenho atreladas às emendas parlamentares.

O público, majoritariamente homens entre 20 e 35 anos, circulava entre estandes do movimento, incluindo o núcleo paranaense, que vendia chaveiros, camisetas e peças de “arte hippie”.

Arthur do Val afirmou que o Missão quer formar uma direita com identidade própria e que o movimento não depende de figuras individuais, citando o caso dos áudios em que descreveu mulheres ucranianas de forma misógina, episódio que lhe custou o mandato.

Mas o festival também foi marcado por explicações sobre novos desgastes: Cristiano Beraldo, que chegou a ser cogitado como presidenciável do Missão, foi alvo da operação que investiga um esquema bilionário de sonegação ligado à Refit, de Rodrigo Magro. Beraldo é, segundo do Val, o maior financiador do Missão.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.