
A Esplanada dos Ministérios, construída para abrigar o funcionalismo público em Brasília, tem sido inutilizada no governo Bolsonaro. Boa parte dos servidores passou a trabalhar em prédios com aluguéis que custam por ano R$ 700 milhões aos cofres públicos. É o que revela uma reportagem do jornal Estadão publicada neste domingo.
No momento, 25 mil funcionários trabalham nos imóveis alugados em áreas vizinhas. Um estudo do Ministério da Economia feito há dois anos — e que ficou engavetado na pasta — mostra que todos poderiam trabalhar nos prédios públicos originais de Brasília.
A maior quantia reservada a aluguéis milionários fica com as empresas da família Venâncio. São ao menos R$ 38,2 milhões do clã que teve origem com Antônio Venâncio da Silva, um ex-lavrador de Assaré (CE) e investidor na construção de shoppings em Brasília. Outra família que lucra com aluguéis para o governo é a família Baracat; o patriarca Miguel fornecia madeira para as obras de Brasília. Neste ano, os descendentes dele ganharão R$ 17,5 milhões em aluguéis.
Entre os políticos, o ex-senador Paulo Octávio, hoje candidato do PSD ao governo do Distrito Federal, é um dos que mais se beneficia. Em 2022, o Poder Executivo reservou ao menos R$ 23,7 milhões para pagar aluguéis e outras despesas relacionadas a imóveis do empresário.
Servidores da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da Economia, desde março de 2020, propõem a volta dos trabalhadores para a Esplanada, a partir de um estudo batizado como “Relatório nº 2″.
Os técnicos estimam que, em média, cada servidor da região da administração federal no Plano Piloto tem para si uma área de trabalho de 17,8 metros quadrados – já incluído todas as utilidades como restaurantes, auditórios, berçários, salas de reunião. O valor é maior que o padrão da iniciativa privada é maior até que o determinado pelo próprio governo.
“Confirmando a validade desse padrão, a Controladoria-Geral da União (CGU), em seu processo de chamamento público de permuta, adotou parâmetros que levaram a 8,45m2 de área útil por ocupante. Esse índice inclui gabinetes, escritórios, salas de reunião, serviço médico”, diz um trecho. “Com essa otimização, a Esplanada poderia comportar até 65.000 pessoas, aumentando em mais de 60% sua ocupação atual”, mostra o relatório.
O texto ressalta que a otimização poderia representar uma economia de até R$ 700 milhões por ano, mas que é necessário analisar com cautela: “Apesar dos fortes indícios de vantajosidade, a hipótese cogitada carece de análises mais detalhadas dos custos, benefícios e potencialidades técnicas, atividades que fogem ao escopo do presente estudo”.