Com fake news sobre fuga de empresas, Bolsonaro atraiu mais ódio dos vizinhos argentinos: “Louco”, “Palhaço”. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 6 de novembro de 2019 às 15:55
Ele passou a ser ainda mais odiado na Argentina

Palhaço, louco, Bostonaro, ridículo fosforescente, lixo. Estes foram alguns dos adjetivos usados para definir Jair Bolsonaro, em comentários postados por argentinos na internet, depois que o presidente brasileiro usou sua conta no Twitter para publicar um post sobre empresas que estariam trocando a Argentina pelo Brasil.

“MWM, fábrica de motores americanos, a Honda, gigante de automóveis, e a L’Oreal, anunciaram o fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil. A nova confiabilidade do investidor vem para gerar mais empregos e maior giro econômico em nosso país.”

Algumas publicações comemoraram, como o site de extrema direita O Antagonista.

“Multinacionais transferem suas fábricas da Argentina para o Brasil. Jair Bolsonaro foi ao Twitter para comemorar o resultado da cura Guedes”, festejou a publicação.

Cura Guedes?

Era fake news. A L’Oreal tratou de emitir comunicado oficial. Continuará na Argentina. A Honda também se manifestou. Vai manter a fábrica no país vizinho, para produzir motos.

A Honda deixará de produzir o modelo de automóvel HR-V, mas só a partir de maio de 2020. E adiantou que, a partir de então, continuará vendendo o veículo na Argentina, mas importado do México, não do Brasil, onde a Honda também tem fábrica.

A MWM já havia anunciado em agosto — antes da eleição de Alberto Fernández, portanto — que fecharia sua fábrica.

Com o tuíte, Bolsonaro deu uma estocada no presidente eleitor da Argentina, Alberto Fernández, como se a suposta transferência das fábricas para o Brasil tivesse algo a ver com o seu iminente governo.

O que Bolsonaro conseguiu, no entanto, foi uma enxurrada de críticas dos argentinos, mesmo daqueles que não votaram em Alberto Fernández.

“Parece que Argentina es la principal preocupación de este caballerito (cavalheiro)”, disse um argentino no Twitter, onde o assunto chegou a ser um dos mais comentados.

Alguns minutos depois da postagem, Bolsonaro apagou o tuíte, mas isso não evitou jornalistas argentinos analisassem o comportamento do chefe de estado na rede social.

Um deles, do conservador Clarín, lembrou que “não é incomum que mensagens do presidente Bolsonaro no Twitter sejam apagadas logo depois de postadas”.

Mencionou que um dos responsáveis pela rede social dele é Carlos Bolsonaro, e lembrou o episódio do vídeo do Leão e as hienas.

A postagem de Bolsonaro sobre as fábricas foi recebida pela imprensa argentina como elemento a mais no quadro de tensão entre os dois países.

Durante a campanha, Bolsonaro visitou Maurício Macri, adversário de Fernández, e fez declarações favoráveis a ele.

Chegou a dizer que, se Macri perdesse a eleição, haveria uma multidão de argentinos cruzando a fronteira para viver no Rio Grande do Sul.

Depois da eleição, afirmou que não cumprimentaria Fernández nem iria à sua posse.

O filho de Bolsonaro, Eduardo, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, compartilhou no Twitter um post que tem uma foto em que ele aparece segurando um fuzil, ao lado de outra, em que aparece o filho de Fernández, Estanislao, fantasiado de pokemon, com maquiagem de drag queem.

Ontem, a imprensa argentina informou que o governo brasileiro seria representado na posse de Alberto Fernández pelo vice, Hamílton Mourão.

Logo depois de Bolsonaro apagar a fake news publicada hoje, um porta-voz do governo brasileiro informou aos jornalistas argentinos que nem Hamílton Mourão irá à posse de novo presidente argentino.

Agora se anuncia a presença de um ministro.

Não é necessário ser nenhum especialista em relações exteriores para saber que não é dessa forma que se deve tratar o terceiro parceiro comercial do Brasil.

A Argentina é o país que mais importa produtos brasileiros de maior valor agregado, como máquinas, eletrônicos e automóveis.

O que Bolsonaro pretende? Abrir mercado na Argentina para concorrentes do Brasil, como os EUA?