Com Faustão, Moro arrastou a Globo para dentro da crise. Por José Cássio

Atualizado em 5 de julho de 2019 às 23:47
Moro e Faustão: dicas de como se comunicar com simplicidade (Imagem: reprodução)

Com a entrada de Faustão no enredo da Lava Jato, revelada pela Veja e pelo Intercept, o ciclo desta primeira fase da farsa se completa: o conluio do juiz Sergio Moro com os Procuradores do Ministério Público, sob as bênçãos de ministros do Superior Tribunal Federal com dicas de assessoria de Imprensa ofertados pela Globo.

Que mais a opinião pública precisa saber para concluir que o país está à beira do caos, enxovalhado mundo afora e com sua credibilidade ferida de morte?

Nesta semana, até o Papa externou sua preocupação. Emitiu, por meio de um vídeo lançado mundialmente, uma dura mensagem a Sergio Moro alertando contra violações do Judiciário.

Disse que juízes devem ser “isentos de favoritismos e de pressões que possam contaminar as decisões que devem tomar”. E finalizou com uma frase que deveria servir de guia para todos que prezam pela dignidade. “Os juízes devem seguir o exemplo de Jesus, que nunca negocia a verdade”.

Na sua participação na trama, Faustão aparece dando dicas a Moro.

“Ele disse que vocês nas entrevistas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão”, escreveu ministro ao grupo de Procuradores após um encontro com o apresentador. “Conselho de quem está a (sic) 28/anos na TV. Pensem nisso”.

Para que não paire dúvidas, é preciso lembrar que Faustão foi procurado por Veja e confirmou tudo.

Outro trecho dos diálogos envolve o ministro Edson Fachin, do STF.

“Caros, conversei 45 m com o Fachin”, escreveu um exultante Deltan Dallagnol aos colegas do MPF. “Aha uhu o Fachin é nosso”, completou.

Não é o caso de seguir detalhando os vazamentos, mas alertar para um dado importante: o tamanho do banco de dados que está em poder do Intercept.

Nele, segundo a Veja, há quase 1 milhão de mensagens, totalizando um arquivo com mais de 30mil páginas. Só em áudios, somam mais de 2 mil.

A revista conta que analisou 650 mil documentos, palavra por palavra, reconhecendo, após checagem, que são verdadeiros e graves. Ou seja, Moro organizou, sim, uma caçada a Lula, com o propósito de prendê-lo e tirar dele a chance de concorrer pela sexta vez à presidência.

Em 2016, no auge da Lava Jato, o então senador Romero Jucá (MDB-RR) foi flagrado numa conversa sugerindo ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, um “pacto” para tentar barrar a Operação.

No diálogo, Machado aparece dizendo que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estava no seu encalço.

“Ele está a fim de pegar vocês. Acha que sou o caixa de vocês”, diz o ex-presidente da Transpetro. “A gente tem que encontrar uma saída”.

Machado então sugere que “a solução mais fácil” seria apostar no golpe e “colocar Michel Temer na Presidência”.

Jucá não só concordou como sugeriu um grande acordo nacional, cunhando uma frase que entraria para a história como símbolo da imoralidade nacional. “Com o Supremo, com tudo”, disse. “Delimitava onde está, pronto”.

A se considerar o estrago que veio e o que ainda temos pela frente, talvez seja mesmo o caso de reconhecer que Jucá pudesse ter certa razão naquele momento.

A Lava Jato acabou afinal levando a economia à bancarrota, desestabilizou a democracia, jogou a Justiça na vala comum, feriu de morte a credibilidade dos meios de comunicação tradicionais e legou ao país um presidente que nem o mais pessimista poderia supor.

Enquanto o país rasteja, Moro segue contando com apoio cada vez menor de um séquito de analfabetos que ascenderam e foram empoderados politicamente no rastro da sua farsa.

Gente como Alexandre Frota, Joice Hasselmann, os “tontos” do MBL, arremedos de milicianos como Carlos, Jair, Eduardo e Flávio Bolsonaro, jornalistas como Augusto Nunes, Diogo Mainardi, etc, etc, etc tenta manter uma comédia de erros que até Francisco, rezando por nós lá do Vaticano, sabe que não terá final feliz.

Em Curitiba, onde cumpre seu exílio, Lula segue disposto e bem humorado.

Nesta semana, em entrevista ao portal Sul21 reiterou que não aceita deixar a carceragem da Superintendência Regional da PF por caridade.

“Minha canela não é canela de pombo”, disse na sua habitual simplicidade, como aconselhou Faustão. “Eu quero sair daqui com 100% da minha inocência”.

O ex-presidente ressaltou o papel da Globo na sua prisão. “É ela que não quer que eu não saia daqui”.

Em longa nota à Imprensa, divulgada nesta manhã, Moro reitera a ladainha de que os vazamentos foram obtidos de forma criminosa e lamenta que Veja tenha se recusado a encaminhar-lhe cópia das mensagens antes da publicação da reportagem.

Agora é tarde. Inês já é morta.

E quem matou foi o próprio ex-juiz de Curitiba.