Com medo da prisão, Bolsonaro “abre mão” de disputar eleições para facilitar anistia

Atualizado em 17 de setembro de 2025 às 12:46
O ex-presidente Jair Bolsonaro na garagem da casa em que cumpre prisão domiciliar, em Brasília. Foto: Sergio Lima/AFP

Jair Bolsonaro autorizou o PL a avançar com a proposta de anistia em discussão no Congresso, mas sem incluir a reversão de sua inelegibilidade. Segundo aliados, o ex-presidente aposta em uma futura decisão do ministro Kassio Nunes Marques, que assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2026, para tentar recuperar seus direitos políticos.

No julgamento que o tornou inelegível, em 2023, Bolsonaro contou justamente com o voto favorável de Nunes Marques, que foi derrotado pela maioria da corte. Além disso, o ex-presidente enfrenta uma condenação de 27 anos e três meses de prisão imposta pelo STF por sua participação na trama golpista de 2022.

Na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) sinalizou que deve pautar a urgência da anistia. O texto mais provável de ser analisado é o do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), que perdoa todos os condenados pelo Supremo em processos relacionados a atos antidemocráticos desde 2019, incluindo Bolsonaro.

Segundo a coluna de Bela Megale no jornal O Globo, o ex-presidente aceitou deixar de lado, por ora, o tema da elegibilidade: sua prioridade é obter o perdão penal que pode livrá-lo da cadeia. Aliados admitem que a ideia de incluir anistia eleitoral no projeto é vista como uma “gordura” para negociar, já que há resistência no Centrão a um projeto mais amplo.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Em prisão domiciliar desde 4 de agosto, Bolsonaro teme ser transferido para a Papuda ou para a carceragem da Polícia Federal. Seus aliados têm reforçado publicamente seu quadro de saúde debilitado: nesta semana, ele passou duas vezes por hospitais em Brasília com crises de pressão baixa, vômitos e complicações pós-cirúrgicas.

Com a condenação do STF, a inelegibilidade do ex-presidente se estende até 2060. Se o projeto do PL fosse aprovado integralmente, Bolsonaro poderia concorrer já em 2026, mas até mesmo ele reconhece que não há ambiente político para isso.

O Centrão já trabalha na construção de uma candidatura alternativa, liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Essa movimentação tem incomodado familiares do ex-presidente, que buscam manter a imagem de Bolsonaro como líder e potencial candidato.

Nos bastidores, fala-se em uma versão alternativa da anistia, patrocinada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que reduziria penas sem extinguir condenações. Bolsonaristas, no entanto, rejeitam essa hipótese, por não contemplar diretamente o ex-presidente.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.