Com prisão de Temer, Lava Jato manda recado à classe política. Por Tiago Barbosa

Atualizado em 21 de março de 2019 às 18:51
Momento em que o ex-presidente Michel Temer é abordado pela Polícia Federal — Foto: Reprodução/TV Globo

A prisão de Temer mostra como o estado policial manipula a justiça e o clamor popular para saciar interesses em torno do poder.

O ex-presidente tem esquemas criminosos há décadas, mas permaneceu intocável enquanto servia como preposto do golpe contra Dilma.

A mediocridade na presidência e o ataque à democracia inspiraram ódio à direita e à esquerda do espectro político – e a prisão dele virou objeto de desejo unânime.

A indignação coletiva é, então, apropriada pela Lava Jato para tentar exibir força justamente quando tem abusos freados pelo STF e pelo Congresso.

O encadeamento dos fatos é espantosa: Rodrigo Maia passa um pito em Moro, pai da Lava Jato, e o amigo do ex-juiz, Marcelo Bretas, manda prender Temer e Moreira Franco, “sogro” de Maia.

A Lava Jato faz teatro para a sociedade ao mandar à prisão – de forma irregular, um drible na proibição de condução coercitiva – um pária público em torno de quem ninguém derrubará uma lágrima.

E manda um recado à classe política para inibir quem se colocar contra interesses autoritários de policiais, procuradores e juízes.

É, em linhas gerais, o braço armado e investigativo do Estado desviado para fins políticos para se sobrepor à sociedade.

A captura tardia de Temer deixa, sim, um sorriso aberto pelo papel deletério desse crápula na queda de Dilma, no desmonte do país e na eleição do tosco Bolsonaro.

Mas é ilusão associá-la a senso de justiça ou seriedade da Lava Jato, há tempos a constituição formal de um poder paralelo criado para distorcer as leis, insuflar o ódio e subjugar o país pelo punitivismo enquanto entrega tudo aos americanos.

Temer, corrupto notório, e companhia calaram nos abusos contra Lula e ajudaram a criminalizar a política, sobretudo a esquerda – e agora, sofrem na pele o preço cobrado pelos tentáculos do estado policial.

No cadafalso do golpe, Dilma profetizou: não vai sobrar pedra sobre pedra entre os golpistas – o problema é que, sob essa ruína, estamos todos, eu, você e um país destroçado por uma elite avessa ao poder popular.