Com proposta do Hamas recusada, ofensiva em Gaza segue sem trégua

Atualizado em 31 de maio de 2025 às 23:44
Palestino diante dos escombros de sua casa após bombardeio de hoje em Gaza. Foto: AFP /OMAR AL-QATTAA

Neste sábado (31), o Hamas apresentou uma contraproposta ao plano de cessar-fogo intermediado pelos Estados Unidos. A requisição prevê a libertação escalonada de reféns israelenses e a entrega de corpos, em troca da soltura de prisioneiros palestinos e maior entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. O governo de Israel, no entanto, rejeitou as novas condições.

Segundo a proposta, o Hamas se compromete a libertar 10 reféns vivos e entregar 18 corpos em cinco etapas, ao longo de uma trégua de 60 dias ainda sem data definida para começar.

As fases incluiriam a liberação de quatro reféns no primeiro dia, dois no 30º dia e mais quatro no encerramento da trégua. Em troca, o grupo exige um cessar-fogo permanente, a retirada completa das tropas israelenses da região e ampliação da assistência humanitária por meio da ONU.

As condições não estavam previstas no plano elaborado por Steve Witkoff, enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Israel já havia aceitado essa proposta anterior, mas classificou a contraproposta palestina como inaceitável. Witkoff, nas redes sociais, reforçou essa posição e afirmou que só haverá trégua se metade dos reféns vivos e mortos forem devolvidos imediatamente.

Por sua vez, o Hamas acusou os Estados Unidos de favorecerem os interesses israelenses, enquanto o governo de Israel reiterou sua intenção de manter as operações militares até a libertação de todos os reféns. Atualmente, 58 seguem em cativeiro e 35 estão presumivelmente mortos.

A guerra em Gaza, iniciada em outubro de 2023, tem provocado uma grave crise humanitária.

Segundo a ONU, trata-se da situação mais catastrófica já registrada na região. Apenas 30 caminhões de ajuda conseguiram entrar no enclave neste sábado, número muito abaixo dos cerca de 500 que costumavam chegar diariamente antes do conflito.

Moradores de Gaza durante uma distribuição de comida no norte da região. Foto: AP/Jehad Alshrafi

Israel continua a restringir severamente a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível, agravando a fome e a escassez generalizada.

As mulheres e crianças são as partes mais afetadas da população palestina.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou que mais de 50 mil crianças foram mortas ou ficaram feridas desde o início do conflito — uma a cada 20 minutos.

Bombardeios contínuos assolam a região, sob a justificativa de que os supostos alvos do Hamas continuarão a ser atacados, devido à recusa do grupo em aceitar os acordos propostos pelos Estados Unidos e à não liberação dos reféns israelenses.

Neste sábado, o último hospital em funcionamento no norte de Gaza foi evacuado após ser cercado por tropas israelenses, encerrando sua atividade.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, nas últimas 24 horas os ataques israelenses mataram ao menos 60 palestinos e feriram 284.

Organizações internacionais alertam para o risco iminente de colapso total dos serviços de saúde e para a fome em larga escala, evidenciando o que vem sendo denunciado como um genocídio contra o povo palestino.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada e moderadora das lives no DCM.