Com quem o Johnny é bravo, com quem o Johnny é manso. Por Fernando Brito

Atualizado em 6 de agosto de 2019 às 12:49
Jair Bolsonaro e Johnny Bravo. Foto: Reprodução/Twitter/Divulgação

PUBLICADO NO TIJOLAÇO

POR FERNANDO BRITO

Erra quem pensa que Jair Bolsonaro deu uma “mancada” ao se comparar a um personagem descerebrado de desenho animado, o Johnny Bravo ou foi abominavelmente grosseiro com o “eu ganhei, porra” dito ontem numa entrevista preparada para a performance, que resultou num vídeo ridículo, espalhado por seus simpatizantes.

Jair Bolsonaro não pretende nada além de se manter em alta com os imbecis, os adolescentes tardios, os irreversivelmente acanalhados e os palermas que acham que um valentão é o que o Brasil precisa, não importa que “de mentirinha” e tosco como o bobalhão do canal teen Cartoon Network.

Está se lixando para as caretas que lhe possam fazer apoiadores como Merval Pereira, os donos dos bancos, a Fiesp e a turma da bufunfa, todos, aliás, já acostumados à necessidade de ter um clown para entreter as massas e permitir que delas se tome o país e qualquer traço de civilidade.

Sabem que, para o dinheiro, para os grandes ruralistas, para uma elite militar apodrecida pela fixação no “perigo comunista” e sobretudo para o capital estrangeiro, o Johnny é manso, dócil, servil.

A escolha do personagem acaba por revelar muito sobre o Jair-Johnny.

Fui ler uma interessante análise do desenho animado, feita por Victor C. no Medium, com esta descrição irretocável:

(…)o que evidencia a ideia de “macho alfa” dos criadores do desenho é a personalidade de Johnny. Pra começo de conversa, ele é uma porta. Não só pelo seu físico, mas por ser burro. Não tem dois jeitos de dizer isso. Johnny é burro, infantil, e muitas vezes é retratado como socialmente inepto. Além disso, ele é um narcisista, obcecado com sua própria beleza e incapaz de passar por uma superfície refletora que seja sem elogiar sua própria imagem.
O que Johnny vive de fazer, em todo santo episódio, é cantar mulheres. Ele seria capaz de largar a apresentação da sua tese de mestrado pra assoviar para uma mulher atraente na rua. Como de se imaginar, sua abordagem é invasiva, agressiva, desrespeitosa e até, em um caso ou outro, criminosa. Não só Johnny faz zero esforço para esconder o quanto ele vê aquela mulher como um item de colecionador, ele também não oferece muito espaço para conversar com ela, preferindo entrar em monólogos sobre seu bíceps e topete loiro enquanto espera que a pobre coitada vá automaticamente cair na dele.

É mesmo a um sujeito assim que estamos reduzidos a ver como presidente.