Com seu jornalismo canalha, Globo matou Lula, de um jeito que evita protesto na ONU. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 27 de abril de 2019 às 10:28
Lula em Chapecó

Em sua última caravana pelo sul do país, Lula disse que seus adversários gostaria de vê-lo morto.

“Para eles, a solução seria me matar. Mas imagino que devam pensar: isso dá muito trabalho, depois vem a ONU e critica, a imagem do Brasil fica ruim”, disse.

Então, se não compensa matá-lo, a solução seria condená-lo, prendê-lo e tirá-lo da disputa eleitoral.

Em março do ano passado, e Lula antecipou passo a passo o que tentariam fazer com ele.

“Mas eu sou teimoso, e não vou deixar de brigar”, afirmou.

Ontem, quando ignorou a entrevista de Lula, a Globo avançou na ofensiva a Lula: fingiu que ele não existe, ou seja, que está morto.

A Globo matou politicamente Lula. Foi um ato de soberba e arrogância. Mas não apenas isso.

A empresa mostrou que morre de medo do ex-presidente, e o registro de seu nome só é válido se for para atacá-lo.

Três dias antes, dedicou dezenove minutos de seu principal produto jornalístico (sic), o Jornal Nacional, para o resultado do julgamento do recurso de Lula no STJ.

O medo de Lula se justifica pelos números que o sociólogo Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi, apresenta em artigo na revista Carta Capital.

Na última consulta que fez, há poucos dias, Lula foi citado como “o melhor presidente que o Brasil já teve” por 48% dos entrevistados. Importante: respostas espontâneas.

Na mesma pesquisa, Fernando Henrique Cardoso foi citado por 10% dos entrevistados e Jair Bolsonaro, por 5%.

No início de 2013, antes das manifestações, 58% respondiam “Lula”  à mesma pergunta: quem foi o melhor presidente da história do Brasil.

“Tudo o que aconteceu de lá para cá, incluídas as próprias manifestações, a crise do segundo governo Dilma, seu impeachment, a histeria antipetista da mídia, as condenações e a prisão, a vitória de Bolsonaro, somadas, fizeram mover as avaliações em sentido ligeiramente negativo, levando em conta as margens de erro. Mas nada que retire de Lula o posto de melhor presidente que o Brasil já teve, com folgada vantagem”, analisou Marcos Coimbra.

“Algo parecido ocorre quando se pergunta a respeito dos sentimentos em relação ao ex-presidente: 48% respondem que ‘gostam’ de Lula, de novo um número acima das expectativas, tudo considerado, e apenas 23% dizem que ‘não gostam’”, escreveu, e acrescentou:

“Os restantes afirmam que ‘não gostam, nem desgostam de Lula’, o que já se poderia considerar uma derrota daqueles que querem apresentá-lo como culpado por todas as mazelas do Brasil.

“Se não sofresse uma sucessão de golpes, Lula teria vencido a eleição de 2018, como venceria outra vez, caso houvesse uma agora. Para impedir que a maioria da população o escolhesse, a elite brasileira abraçou a patética figura do capitão Bolsonaro e o carregou nas costas, fazendo vista grossa a seus despropósitos antigos e às trapaças de que precisou lançar mão para vencer. Agora, tem de aturar seu despreparo e desequilíbrio”, concluiu Coimbra.

Para ele, não será possível tirar “o lugar de Lula na consciência e no coração da maioria do povo. Só os tolos (e os oportunistas) acham que seu partido e companheiros deveriam esquecer-se dele e de quanto sua liderança continua a significar na política nacional.”

Na caravana em que falou do desejo que seus adversários têm de que morra, Lula calou adversários em um discurso histórico em Chapecó. Bolsonaristas com pedras na mão e muito agressivos silenciaram cinco minutos depois que o ex-presidente começou a discursar. Alguns foram para casa, outros começaram a ouvi-lo em silêncio.

Quando terminou, Lula pediu que seus apoiadores fizessem um cordão para que ele voltasse caminhando para o hotel.

Quando chegou ao destino, comentou:

“Eu disse que caminharia por Chapecó e ninguém iria me impedir”, afirmou.

Entende-se por que a Globo, que não pode vencê-lo, decidiu matá-lo, de um jeito que não vai gerar protesto na ONU.

Infeliz é o sujeito que se informa apenas pela Globo: torna-se cúmplice de um tipo de jornalismo que só pode ser definido com uma palavra: canalha.