Com seu voto, Gilmar Mendes consagra a Justiça bolivariana de Michel Temer. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de junho de 2017 às 8:19
Bolivarianismo arte, bolivarianismo moleque

 

Em 2014, Gilmar Mendes deu uma entrevista à Folha que ajudou a consolidar um discurso antipetista obtuso: corríamos o risco de transformar o STF numa corte bolivariana.

Essa falácia — o PT se notabilizou pelas piores indicações possíveis para o Supremo e ainda tinha gente como José Eduardo Martins Cardozo no Ministério — vinha junto com a conversa de que viraríamos a Venezuela.

Passados três anos e um golpe paraguaio, verifica-se que Gilmar foi premonitório: Michel Temer montou um Judiciário bolivariano e a divisão venezuelana da nossa sociedade é uma realidade inescapável.

A farsa dos quatro dias de julgamento da cassação de Temer, em que o mundo inteiro antecipou o que os juízes escolheriam, mostra como os tribunais superiores estão a reboque de Michel.

A política intervencionista lhe outorgou os votos dos ministros que ele indicou no TSE, mais o do cada dia mais óbvio Gilmar, que fechou a noite em grande estilo. 

Naquela ocasião, à Folha, GM criticou o ambiente de “certa acomodação do TSE”. “Está tudo já determinado — devemos fazer isso mesmo que o establishment quer”, ironizou.

O TSE estava tendendo a apoiar coisas do governo?, quis saber o entrevistador.

“Fundamentalmente chegava a isso. Cheguei a apontar problemas nesse sentido”, respondeu o homem.

Temia que o STF perdesse “o papel contramajoritário, que venha para cumprir e chancelar o que o governo quer”.

No Supremo, Alexandre de Moraes, ex-ministro da Justiça, indicação de Temer, continuará o serviço de blindar o chefe. Quem articulou a operação? Ele mesmo, Gilmar Mendes.

À vontade com o aparelhamento, Michel mandou de volta as 82 perguntas que a PF lhe enviou, com um desafio: “O questionário é um acinte à sua dignidade pessoal e ao cargo que ocupa”.

O bolivarianismo temerista está só começando. Deus nos ajude.