
O comandante do Bope, tenente-coronel Marcelo Corbage, afirmou ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que o confronto na mata durante a chacina que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão não foi resultado de uma estratégia policial, como declarou o governador Cláudio Castro (PL), mas sim uma emboscada preparada pelo Comando Vermelho (CV). O depoimento contraria a versão oficial apresentada pelo governo no dia da ação. Com informações do G1.
Enquanto a operação ainda estava em curso, Castro afirmou que os tiroteios ocorreram “majoritariamente em área de mata” por decisão planejada, “para encurralá-los lá para que a população sentisse o mínimo possível”.
Segundo Corbage, porém, a ida ao alto da Vacaria não fazia parte do plano original: foi uma reação imediata a uma “estratégia até então desconhecida” dos criminosos da Penha e do Alemão. “A intenção era preparar uma emboscada”, relatou.
“Armadilha” alterou o plano
Corbage disse que a ofensiva dos traficantes — registrada por drones, mostrando criminosos camuflados avançando para a mata — levou policiais civis a progredirem em terreno sem resistência aparente, caindo em uma armadilha.
“Em razão da relativa falta de resistência, os policiais civis foram progredindo, sendo atraídos para uma armadilha”, afirmou.
Imagens inéditas da Operação Contenção mostram a fuga de criminosos para a mata e a tentativa de manipulação por marginais armados.
É esse o cenário real da guerra que enfrentamos no Rio de Janeiro. pic.twitter.com/K9YNhmhCWo
— Cláudio Castro (@claudiocastroRJ) October 30, 2025
Segundo ele, a reação dos criminosos “fugiu a todos os padrões anteriormente detectados”, com enfrentamento contínuo e sustentado.
Com policiais civis feridos e mortos, a operação deixou de ser cumprimento de mandados e se tornou “uma verdadeira operação de resgate”. Corbage afirmou que os dois agentes do Bope mortos estavam justamente no resgate das equipes atingidas.
“Muro do Bope”: comandante contesta tática anunciada após a ação
No dia seguinte à operação, a mais letal da história do país envolvendo forças policiais, a Polícia Militar apresentou a tática chamada de “Muro do Bope”, que supostamente consistiria em posicionar agentes no topo da Serra da Misericórdia para conter o avanço de traficantes.
Corbage negou que o Bope tenha se posicionado previamente para emboscar criminosos: “Não é verdade que os policiais do Bope tenham se posicionado previamente na Serra da Misericórdia para fazer o que é conhecido como ‘tróia’.”
Ele disse que o objetivo era impedir deslocamentos entre comunidades e não atuar diretamente na Vacaria. O enfrentamento, segundo ele, ocorreu porque traficantes já estavam entrincheirados em “verdadeiros bunkers”.
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Delegados da Civil reforçam teoria da emboscada do CV
O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, André Luiz de Souza Neves, afirmou que não havia previsão de ingressar na mata, mas que policiais avançaram por instinto ao perceberem movimentações.
O comandante da Core, Fabrício Oliveira, reforçou que não houve emboscada policial, mas sim dos traficantes:
“Se houve uma emboscada ali em algum momento, foi dos traficantes contra os policiais civis. Diversos policiais foram baleados e dois morreram com tiro na cabeça.”