Comandante do Policiamento da Capital pede desculpa à família do jovem inocente morto por PMs de SP

Atualizado em 10 de agosto de 2020 às 21:16

 

Coronel Vanderlei Ramos

Por Daniel Trevisan

O comandante do Policiamento da Capital, coronel Vanderlei Ramos, já tem uma explicação para o assassinato de um jovem inocente na região do Parque Bristol, no Ipiranga, Zona Centro-Sul de São Paulo.

A culpa é da própria vítima, Rogério Ferreira da Silva Júnior, morto ontem, quando faria 19 anos. Ele estava em uma motocicleta, sem capacete, e as imagens gravadas por uma câmera mostram que ele parou quando dois policiais militares, também de moto, o abordaram.

Em mensagem que enviou ao Conselho de Segurança (Conseg) do Parque Bristol, o coronel Ramos pediu desculpas aos moradores da região e pediu que alguém leve esse mesmo pedido aos parentes da vítima.

Ele, no entanto, sugere que Rogério foi morto porque não parou diante do sinal que teria sido feito pelos policiais. Não é o que as imagens mostram.

Segue a mensagem dele:

“A situação é delicada e complexa. Não dá para explicar neste espaço. Como Comandante do Policiamento da Capital, lamento a tragédia e a dor da família e também do policial, que certamente está deveras abalado com o ocorrido. Vivemos num mundo de medos e incertezas de todos os lados. Fica para todos nós a lição e orientação: quando a polícia (civil, militar ou GCM) der sinal de parada para fiscalização ou abordagem, mesmo que esteja com o veículo irregular, pare de imediato, não tente fugir e não esboce movimentos bruscos ou suspeitos. A abordagem é um momento crítico e tenso para os dois lados. Recentemente, saindo da ponte que sai da Expo Imigrantes um policial militar da região (Sd PM Maico) levou um tiro no rosto acompanhando uma moto, situação semelhante a essa. Hoje, como sabem, enterramos três policiais mortos em abordagem. Nada justifica mais essa tragédia, por isso em nome da Polícia Militar peço desculpas a todo o povo de São Paulo, principalmente aos Srs. do grupo e aos familiares. Se puderem, levem essa mensagem de dor para a família, a qual gostaríamos muito de nós solidarizar, abraçando e pedindo a Deus que conforte o coração. Sei que jamais a família aceitaria um abraço de alguém de farda nessa ocasião e também compreendo perfeitamente isso.
Mas peço que alguém dos Srs transmita a os familiares nosso sentimento.
Coronel PM Ramos.”

Rogério foi morto durante ação da PM no dia em que completou 19 anos | Foto: Arquivo pessoal

O presidente do Conseg, Luís Alves, se solidarizou com a Polícia Militar, em mensagem em que relativiza o valor da vida. Para o “cidadão de bem”, o peso é um. Para os demais, outro.

“Transmito o meu sentimento de pesar a todos (Familiares e Amigos do Jovem Rogério, e, também aos Policiais), envolvidos nessa triste e lamentável situação com desfecho trágico. Tenho certeza que indesejado por todos nós!! Concordo respeitosamente com o Cel PM Ramos, pela sua sábia colocação, demonstrando que um Policial experiente e consciente jamais desprezará o Valor de uma vida inocente, seja ela de um representante da lei e da ordem, ou de um cidadão de bem!!
Rogo ao nosso Justo e Bom DEUS que Abençoe e traga conforto espirtual a todos!!!”

Ou seja, se não for “cidadão de bem”, a vida não tem valor.

O problema da violência policial é que ela tem aumentado no Estado de São Paulo depois que João Doria assumiu o governo, depois de uma campanha em que disse que, a partir de janeiro de 2019, a polícia atiraria para matar.

Ele também elogiou a operação em que 11 assaltantes foram mortos, no Morumbi, em São Paulo, e prometeu que, eleito, contraria bons advogados para defender policiais.

Próximo do Parque Bristol, uma operação realizada em abril deste ano terminou com um adolescente de 16 anos morto, Igor Rocha.

Segundo testemunhas, ele era inocente e não estava armado, ao contrário do que informou a PM.

O Batalhão da PM responsável pelo policiamento na região é o 36o., e a companhia que atua no Parque Bristol é a 4a.

Até pouco tempo, ele tinha como comandante um capitão bolsonarista, que até posou para foto fazendo arminha. Ele passou para a reserva, é bacharel em direito e hoje teria um escritório especializado em defender policiais acusados de violência em São José do Rio Preto.

É possível que o assassinato de mais um jovem inocente em São Paulo não tenha sido uma tragédia, como disse o comandante do Policiamento da Capital, Vanderlei Ramos.

Pode ser resultado de diretrizes dadas pelo comando. Não é uma acusação, é uma possibilidade e, por isso, na defesa da sociedade, a PM faria bem se, desse episódio, aprendesse uma lição e verificasse como seus comandados estão sendo orientados no Estado.

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Veja o vídeo: