Combinação de cloroquina, defendida por Bolsonaro, com outros medicamentos matou jornalista do DCM

Atualizado em 7 de julho de 2020 às 19:24
Renan Antunes de Oliveira

O jornalista Renan Antunes de Oliveira, morto aos 70 anos no domingo, dia 19, estava tomando um coquetel à base de hidroxicloroquina e azitromicina.

Ele teve uma parada cardíaca em sua casa em Floripa.

Na semana passada, Renan baixou no hospital com suspeita de coronavírus.

Fez uma tomografia dos pulmões e tinha os sintomas da covid-19. Os médicos receitaram-lhe, então, as drogas.

Nem ele e nem a mulher, Blanca, assinaram termo de responsabilidade. Foram dispensados sem que a hipótese de internação fosse levantada.

Na véspera de seu falecimento, cinco dias após o início desse tratamento, veio o resultado negativo para coronavírus.

Renan fez um transplante de rim no mês passado e estava tomando imunossupressores como prednisona, sirolimo e tacrolimo, que baixam a imunidade.

De acordo com a viúva, a lista desses comprimidos fora passada à equipe médica.

A maioria desses medicamentos, combinados com a hidroxicloroquina, causa, entre outras coisas, arritmia cardíaca.

No site Drug Interaction Checker, essas interações são todas desaconselhadas. “Evite ou use um medicamento alternativo”, diz o alerta (veja abaixo).

“Essa interação medicamentosa matou Renan. Só deveria ser realizada em ambiente hospitalar”, diz Marcos Caseiro, médico infectologista e professor universitário, ele mesmo curado da covid-19.

“O que precipitou o infarto foi a arritmia. É uma barbaridade o que fizeram”, afirma Caseiro, que trabalha no Emílio Ribas do Guarujá.

O antimalárico advogado por Bolsonaro e Trump foi alvo de um estudo nos EUA, o maior já feito até o momento.

Não demonstrou benefícios para pacientes com coronavírus e causou mais mortes em comparação com aqueles que receberam tratamento padrão, relataram os pesquisadores.

Levantamento do site Angioplasty.Org, comunidade de cardiologistas e pacientes, revelou que o número de pessoas que morreu em casa de ataque cardíaco em Nova York, entre 30 de março e 5 de abril, foi 8 vezes maior que no mesmo período no ano passado.

Jair Bolsonaro, como seu ídolo Trump, são os maiores garotos-propaganda do remédio.

O clone vagabundo brasileiro, até agora, não mostrou o resultado de seu exame para o vírus.

Por que Renan, um veterano repórter, tomou a hidroxicloroquina, mesmo sabendo dos riscos? “Desespero”, responde Blanca.  

Quantas pessoas estão passando por tragédia como a de Renan no Brasil?