Como a Argentina de Macri, o queridón do mercado, virou campeã mundial dos juros. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 5 de maio de 2018 às 17:23
Deu ruim

POR MIGUEL ENRIQUEZ

Ao vencer por uma margem apertada as eleições presidenciais na Argentina, em novembro de  2015, batendo o candidato peronista Daniel Scioli por um diferença de 680 mil votos, o empresário Mauricio Macri, ex-prefeito da capital, Buenos Aires, foi efusivamente saudado como a grande esperança branca do mercado financeiro, na América Latina.  

Sua plataforma de reformas, dizia-se à época, recolocaria a economia do país nos trilhos, após mais de uma década descrita como de desvarios populistas do casal Néstor e Cristina Kirchner, reforçando, pelas urnas, a tendência conservadora iniciada na mesma época com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Brasil.

Menos de dois anos e meio depois, o exemplo de estadista a ser seguido corre o risco de se transformar numa versão mais elegante do presidente Nicolás Maduro, da  Venezuela, do que do assemelhar-se ao aristocrático Emmanuel Macron, da França.

Na primeira semana de maio, Macri teve de enfrentar uma gigantesca fuga de capitais, o que o obrigou a desvalorizar a moeda local em 8% perante dólar, que chegou a ser cotado a 23 pesos.

O grau de insegurança e instabilidade da economia, foi chancelado pelo Banco Central argentino, que aumentou os juros básicos de 27,5% para estratosféricos 40% – superiores aos 21,78% praticados pelo governo bolivariano –

batendo o recorde mundial em termos de taxa nominal, pegando os investidores de surpresa,  segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Mesmo tendo obtido uma vitória importante nas eleições legislativas do ano passado, quando ampliou sua bancada no Congresso em 9 senadores e 21 deputados, a vida não tem sido fácil para o governo Macri. A inflação continua em patamares insustentáveis, tendo fechado 2017 em 24,8%( bem distante da meta oficial de 10%),  taxa que deverá repetir-se neste ano, e é a segunda maior da América Latina, atrás apenas da Venezuela.

Graças ao chamado “tarifazo”, que elevou às alturas os preços e tarifas administrados  no mercado interno (o do gás chegou a ser majorado em 1 000%, mas foi barrado pela Suprema Corte)  o desemprego e a pobreza cresceram em seu mandato.

A população pobre passou dos 4,7% registrados em 2013, último ano a ser medido anteriormente à posse de Macri,  a nada menos de 32% da população total. O desemprego, que atingia 6% em 2015, aumentou em mais de 50%, passando aos 9,3% do ano passado.

Esse quadro explica como a Argentina, sob a batuta do Super Macri, como alguns bajuladores se referiam ao presidente até há pouco tempo, chegou ao pódio mundial com os 40% de taxa básica de juros. Mesmo assim, tal como vem acontecendo no futebol, nas últimas décadas, los hermanos continuam atrás dos macaquitos brasileiros nesse quesito.

Os 44,95% da taxa Selic alcançados em março de 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso, outro baluarte do neoliberalismo no continente, continuam imbatíveis.