Como a CBN informou sobre o caso Fachin pouco antes da votação. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 21 de maio de 2015 às 17:04

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Sócrates e Platão confabularam sobre a votação de Fachin no Senado, poucas horas antes dela, numa reedição dos clássicos Diálogos.

Ou pelo menos foi assim que Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada, caracterizou Merval e Sardenberg.

Ele não disse quem era Sócrates e quem era Platão, mas publicou a conversa – o diálogo, melhor – que os dois tiveram.

Sardenberg pedia luzes sobre a votação. Merval respondeu com sombras para os infelizes ouvintes.

Para mostrar intimidade com o poder, ele afirmou que acabara de falar com “senadores”.

Com base nestas conversas, o quadro, segundo Merval, estava completamente indefinido.

Fachin precisava de 41 votos, lembrou Merval, mas ele tinha, garantidos, apenas 38, e olhe lá.

A realidade esmagou a previsão obtusa, desinformada e desinformadora de Merval. Fachin se elegeu com 52 votos.

A margem de erro de Merval foi fabulosa: de 38 para 52 são mais de 30%. No ramo das pesquisas, ele estaria falido.

E mesmo no jornalismo – não tivesse ele plena licença para errar sempre que se tratar de falar contra o PT.

É uma licença de que gozam virtualmente todos os colunistas das grandes corporações de mídia.

De ninguém é cobrada precisão quando está em jogo o PT.

Não faz muito tempo, um blogueiro do UOL virtualmente matou Lula ao atribuir-lhe um câncer no pâncreas.

É o mais letal dos cânceres, e Lula já estaria morto se fosse verdade. O blogueiro, Leandro Mazzini, segue, tranquilo, na ativa.

Se inventasse uma pneumonia para Serra ou um resfriado para Aécio provavelmente já estaria na rua.

Na Época, o redator-chefe Diego Escosteguy descobriu a fórmula para a impunidade jornalística, apesar der sua relativamente pouca idade.

Nestes dias, ele tem insistido, contra os fatos concretos, que Lula está sendo investigado pelo Ministério Público.

Isso foi até capa da revista.

O que existe, na verdade, é um pedido de um procurador para que se abra uma investigação.

É um caso complicado. O procurador é acusado de postar mensagens contra a candidatura de Dilma na campanha, o que significa um problema ético e sugere uma visão partidária dele de justiça.

Será aceito seu pedido?

O tempo responderá. Mas para Escosteguy isso não importa. Ele próprio já decretou que sim.

No Twitter, ele vem postando loucamente mensagens que confirmam o que ainda não foi confirmado.

Em tempos menos conflagrados politicamente nas redações, Escosteguy já estaria demitido. Mas ele continua a bater panelas na Época.

De volta a Sócrates e Platão, quem realmente perdeu na história não foi nem Merval, “íntimo” dos senadores, e nem Sardenberg, outro luminar que fez carreira súbita depois de anos de medíocre trajetória.

Foi o público da CNN.

Pulitzer, o maior dos jornalistas, cobrava desesperadamente precisão de seus comandados.

Sem ela, não existe credibilidade.

Os irmãos Marinhos, e seus companheiros donos de empresas jornalísticas, não têm nada do espírito de Pulitzer.

É uma pena, e é uma das razões da miserável qualidade do jornalismo brasileiro feito pelas corporações.