
O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta terça-feira (2) o julgamento que pode levar Jair Bolsonaro (PL) à prisão em regime fechado. Mais do que uma decisão jurídica, o processo já movimenta a política e as redes sociais, onde a direita organiza narrativas para reagir ao possível desfecho, conforme informações da coluna “Encaminhado com Frequência”, da Folha de S.Paulo.
Monitoramento da Palver, empresa que acompanha em tempo real mais de 100 mil grupos de WhatsApp e 5 mil do Telegram, mostra a dimensão dessa mobilização. Entre 25 e 31 de agosto, as menções ao caso chegaram a 700 mensagens a cada 100 mil trocadas nas plataformas, com pico no dia 24, quando ocorreu a invasão à casa da mãe e dos avós de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
Segundo os dados, 28% das mensagens analisadas indicam encaminhamento em massa, o que reforça a hipótese de conteúdo produzido e distribuído de forma coordenada.
Três frentes de narrativa
O discurso digital da direita se concentra em três eixos principais. O primeiro é o ataque direto ao STF, que representa 21% das mensagens, apresentando a Corte como ator político e parcial. O segundo aposta na internacionalização do conflito, com 19,7% das citações vinculando o julgamento aos Estados Unidos, Donald Trump e à Lei Magnitsky. Já o terceiro gira em torno da possibilidade de prisão de Bolsonaro, presente em 14,9% das conversas, classificada como evidência de “lawfare” e perseguição judicial.
Dentro dessas linhas, termos como “censura” e “ditadura da toga” reforçam a narrativa da vitimização, amplamente reproduzida por influenciadores alinhados ao bolsonarismo.
Ação coordenada
Eduardo Bolsonaro, responsável por 11,5% das menções no período, tem atuado como o principal articulador em Washington. Sua estratégia é pressionar pela narrativa de que o destino do pai também depende da influência internacional.
Ao lado dele, Paulo Figueiredo reforça a retórica de sanções contra autoridades brasileiras e conecta a negociação sobre tarifas dos EUA às pautas defendidas pela bancada bolsonarista no Congresso, como a anistia e o combate ao PL 2628.

O nome de Jason Miller, estrategista político ligado a Donald Trump, também aparece associado ao caso. Miller tem vinculado o bolsonarismo ao trumpismo, passando a mensagem de que a Casa Branca acompanha de perto o julgamento e pode reagir politicamente caso Bolsonaro seja condenado.
Radicais e influenciadores digitais
No campo mais radical, Allan dos Santos tenta reconstruir sua presença digital após bloqueios. Sua última conta no Instagram foi a que mais cresceu no campo da direita nos últimos 90 dias, superando inclusive o avanço de Nikolas Ferreira e Eduardo Bolsonaro.
Para um público mais amplo, o jornalista Alexandre Garcia cumpre papel de difusor das mensagens bolsonaristas em vídeos curtos, facilmente compartilhados em grupos de WhatsApp e outras plataformas, funcionando como um elo entre influenciadores radicais e eleitores conservadores moderados.
O julgamento se estenderá por várias sessões, previstas para os dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro. Até lá, a expectativa é de que as narrativas da direita ganhem ainda mais intensidade, com cortes de declarações e movimentações sendo usados como combustível para reforçar discursos de vitimização, perseguição ou internacionalização do caso.
Caso haja algum posicionamento dos Estados Unidos durante o processo — seja em relação às tarifas impostas ao Brasil ou por meio de declarações de Donald Trump — o efeito deve ser amplificado nas redes, servindo como novo fôlego para a mobilização digital do bolsonarismo.