
A entrada dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã e a possível interrupção do tráfego no Estreito de Ormuz já preocupam o mercado global de petróleo. No Brasil, os impactos podem ser sentidos de forma mais imediata nas regiões Norte e Nordeste, onde a produção de combustíveis é majoritariamente realizada por refinarias privadas. A avaliação é de Sérgio Araújo, presidente executivo da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
O Irã ameaça fechar o Estreito de Ormuz após os bombardeios dos EUA a instalações nucleares iranianas. Cerca de 20% do petróleo mundial passa por esse canal estratégico, e seu bloqueio afetaria toda a cadeia global de combustíveis.
“As refinarias privadas atualizam os preços semanalmente, como é comum no mercado. Só a Petrobras adota a prática de manter a defasagem dos preços, mas ela pode ter dificuldades em manter os valores desatualizados se o preço do petróleo disparar”, afirmou Araújo ao UOL.
Atualmente, a Petrobras possui apenas uma refinaria no Nordeste — Abreu e Lima, em Pernambuco. Outras unidades localizadas no Amazonas e na Bahia foram vendidas durante o governo Bolsonaro. Isso aumenta a dependência de refinarias privadas, que seguem a cotação internacional do barril e não conseguem absorver variações abruptas.
Na última sexta-feira, a Abicom indicou uma defasagem de R$ 0,50 no preço do diesel e de R$ 0,20 na gasolina, considerando o barril a US$ 77.

Inflação e impacto no transporte
A expectativa no mercado é de que o barril de petróleo ultrapasse os US$ 100, dependendo da reação das bolsas com a abertura dos mercados nesta segunda-feira (24). O valor atual gira em torno de US$ 80.
Segundo Bruno Imaizumi, economista da LCA Intelligence, a alta do petróleo pode pressionar os preços de outros produtos no Brasil.
“Caso ocorra o fechamento do Estreito de Ormuz, cerca de 20% a 30% da produção global de petróleo poderá ser afetada. Outros produtores até poderiam produzir mais, mas não a tempo de evitar uma alta de preços generalizada”, analisou.
Como boa parte dos alimentos e mercadorias é transportada por caminhões movidos a diesel, o aumento no custo dos combustíveis pode acelerar a inflação e afetar o bolso do consumidor. Cerca de 25% do diesel e 10% da gasolina consumidos no Brasil dependem da importação.
Caso a Petrobras mantenha a política de defasagem por mais tempo, especialistas alertam que poderá enfrentar questionamentos por parte dos acionistas, especialmente se a pressão internacional por reajustes aumentar.