A Veja publicou uma reportagem na sua última edição com uma denúncia envolvendo um tenente-coronel da PM do Rio chamado Fábio Almeida de Souza, que supostamente teria simpatia pelo nazismo dentro da Tropa de Choque. Ele participou das manifestações de 2013 e pode ter incitado confrontos físicos com black blocs. A publicação reuniu conversas no Whatsapp que estão em um inquérito de 230 páginas da Corregedoria-Geral da Polícia Militar.
Fábio aparece em quatro diálogos, direta ou indiretamente, registrados nos dias 28 de dezembro de 2013, 1º de janeiro de 2014 e, por último, em 7 de janeiro. No primeiro diálogo, um capitão identificado pelo nome de Sanches começa com uma declaração, no mínimo, estranha: “A favor da inquisição, vamos caçar bruxas e fantasmas. Pela raça pura e sem defeitos. Viva o Choque”.
Um policial não identificado pede que seja feita a vontade da maioria. Outro capitão, chamado Gilberto, corrige o colega: “Não é a vontade da maioria. É o certo. É a vontade do Führer”. Outro policial diz que eles farão o expurgo de oficiais do batalhão que “contribuem para a imagem de rataria”.
No segundo diálogo, o então tenente-coronel Fábio aparece afirmando que assumirá o comando da PMRJ em abril de 2015. Os motivos? “Está nas escrituras. Serão quatro anos de inverno nuclear para os peitos de ladrilho. Só cursado terá vez. Choque, Caveira, Cachorreiro ou piloto. O resto será escorraçado”.
O que Fábio quer dizer é que a Tropa de Choque ainda não é admirada, por exemplo, como é o Bope no Rio de Janeiro, a ponto de não serem questionados em suas técnicas brutais de eliminação de civis. Por isso, ele quer adotar o padrão “Alemanha de 1930”, caçando os “infiéis” dentro da própria polícia para endurecê-la.
Num terceiro diálogo, Fábio Almeida de Souza defende que seja utilizada munição de fuzil e estrangulamentos em manifestantes no lugar de golpes com bastões (tonfa). Um oficial chamado Gilberto declara: “Coronel Fábio pela instauração do Reich”. Na última conversa, o tenente-coronel se gaba de ter atirado uma bomba de efeito moral nas costas de um black bloc.
A reportagem afirma que Fábio foi responsável por uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo durante o protesto de 20 de junho de 2013 na prefeitura do Rio de Janeiro. Isso custou para ele o comando da Tropa de Choque, perdendo o posto para o coronel Márcio Rocha. O novo comandante moderou no uso de balas de borracha e de gás durante os protestos, mas aumentou as prisões antes e durante a Copa do Mundo de 2014.
Mesmo assim, Fábio Almeida de Souza foi promovido ao posto de coronel no dia 25 de dezembro do ano passado, durante o Natal, e seus planos de conspiração nos bastidores da polícia vieram à tona.
A PM não acha que há nada de errado em sua promoção, embora exista um inquérito que mostra que ele pode ter incitado pancadaria com manifestantes black blocs, além das declarações abertamente nazistas para expurgar outros policiais dentro da corporação.
O texto da Veja deveria despertar a revolta de seus leitores. Foi o contrário.
No Facebook, declarações absurdas e ataques à matéria abundam. “A Veja está esquerdando. Quando eles destruírem a sede da Abril novamente, quero ver vocês defendendo”, diz um leitor. “Eu fico impressionado como existe gente neste país disposta a defender vagabundo. Black Blocs não passam de massa de manobra deste governo nazista”, complementa outro.
“A Veja tá de sacanagem. Pau na vagabundagem. Salve, salve a tropa de choque da PMERJ!”, frisa um fulano.
Para o leitor que a Veja cativou, o PT é o mal e a polícia é a salvação. Mesmo que os policiais falem abertamente sobre Reich, Führer e o nazismo de Adolf Hitler, não há problema.
Eles apoiam até oficiais que defendam abertamente o fuzilamento de inocentes nas ruas. Porque para eles não importam os meios – numa leitura abjeta da filosofia política do florentino Maquiavel.
Quem lê a revista lembra das reportagens que falavam de “baderneiros”, “arruaceiros” e “vândalos” nas ruas. E esse coitado não consegue entender como sua bíblia passa a contar que existem crimes dentro da própria PM.
O que importa para esses pequenos lobões é tirar o PT do poder, nem que seja para colocar o nazismo no lugar. Se a Veja, que sempre esteve com eles, não entende isso, dane-se a Veja.