Como Alckmin jogou no colo do governo federal a sua fraude das merendas. Por Mauro Donato

Atualizado em 30 de janeiro de 2016 às 20:52

ALCKMIN

 

Numa entrega de viaturas para a polícia, Geraldo Alckmin disse o seguinte: “O Lula é PT, o Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites”.

Esse é o mesmo Alckmin cujo governo está metido na fraude das merendas. Sim, ele mesmo. Pode? Pode.

Seja sincero, leitor, um camarada que atende pelo apelido de “Moita” lhe inspira confiança ou deixa a entender que se trata de um craque na arte da camuflagem? Você compraria um carro usado dele? E nomeá-lo para chefe de gabinete então?

“Moita” é Luiz Roberto dos Santos, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin. E o que a Casa Civil tem a ver com a pasta da Educação? Vamos lá:

O ‘ex’ em sua qualificação é recente. Moita foi demitido na véspera da deflagração da operação Alba Branca feita pela Polícia Civil para investigar um esquema de fraudes na merenda escolar. Ele foi flagrado em um grampo realizado em dezembro do ano passado no qual informava as últimas notícias aos participantes do esquema. O Secretário de Educação havia acabado de cair em razão das ocupações das escolas e o esquema corria risco. Afinal de contas, se Herman Voorwald havia caído, seu chefe de gabinete, Fernando Padula, poderia estar por um fio também. Todos ficaram preocupados.

Moita era chapa dos pilantras e já havia instruído os fornecedores de merenda escolar – com orientação de Fernando Padula – sobre como reformular o contrato de modo a proporcionar mais ganhos pois alguns já haviam recebido sua cota de propina.

Um deles seria o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), com 10% – seu assessor Jéter Rodrigues admitiu ter se encontrado com um lobista para ‘destravar o contrato’ da Coaf. Em depoimento à Polícia Civil, funcionários da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) afirmaram que a propina chegava a ser de 25% dos contratos em alguns casos. “Não coloca como ‘aditivo’, é ‘reequilíbrio econômico’”, ensinou a dupla Moita/Padula, professores de língua pátria nos contratos.

O lobista citado pelo assessor de Fernando Capez é Marcel Ferreira Julio que esteve dizendo que Herman Voorwald também levou o seu quinhão: R$ 100 mil reais das mãos do antigo fornecedor (a empresa Citricardilli) para não permitir que a Coaf vencesse a chamada pública.

Agora voltemos a dezembro. Com a tempestade que os estudantes causavam sobre a Secretaria de Educação era preciso agir rápido pois os contratos fraudulentos tinham o aval de Padula. Sempre tratado por “nosso amigo” ou “nosso homem” nos telefonemas, era Padula quem estava ‘na frente’ (palavras de Moita). Se ele caísse, todos perderiam.

Fernando Padula não caiu junto com Herman Voorwald em dezembro mas com a bomba Alba Branca detonada, foi demitido anteontem (dia 28).

Padula é o responsável pela declaração de guerra feita aos estudantes em uma reunião com agentes de ensino durante o auge das ocupações. Era ele quem já na manhã seguinte passou a visitar escolas e minutos depois de sua saída, misteriosamente, a polícia e alguns pais e diretores contrários às ocupações invadiram e por vezes agrediram alunos. Em seu currículo como servidor público ligado a Educação já trazia suspeitas de irregularidades desde 2013 ao favorer a empresa Bonauto Locação de Veículos Ltda na prestação de serviço de transporte escolar.

“Ele vem trabalhando para forjar as condições para contratação da Bonauto”, acusava Alexandre Gerolamo Almeida, presidente da Federação dos Trabalhadores do Transporte Escolar do Alto Tietê e Região (Fetraadete).

A Bonauto já era velha conhecida do sindicato por suas inúmeras irregularidades. Os trabalhadores não eram registrados, muitos motoristas não possuiam habilitação adequada para transporte escolar e sua frota estava sucateada. Mesmo assim a empresa amiga do ‘nosso amigo’ venceu o processo de licitação aberto pelo Estado (valor de R$ 66,8 milhões) para transportar 23 mil alunos nos municípios de Mogi, Suzano, Ferraz de Vasconcelos, Santo André, Salesópolis e Guarulhos. Pouco tempo depois seus ônibus caindo aos pedaços deixaram milhares de estudantes a pé, sem poder ir às escolas.

Agora Fernando Padula está enredado também no esquema de merenda escolar que envolvia pelo menos 152 cidades atendidas pela tal Coaf num faturamento que chegava a quase metade (48%) do orçamento destinado a merenda de agricultura familiar para todo o Estado. Quase R$ 210 milhões.

Recapitulando: Luiz Roberto dos Santos (vulgo ‘Moita’), Fernando Capez, Herman Voorwald, Fernando Padula, todos PSDB. E o que diz sobre isso o governador Geraldo Alckmin?

“Isso é uma quadrilha que começou em outros Estados e chegou a São Paulo. Quem diz se a cooperativa que fornece os itens para a merenda está habilitada é o Ministério do Desenvolvimento Agrário.”

Claro, a culpa é do governo federal. Nunca é com ele. Cartel do metrô? Culpa da Siemens e da Alstom.

Os esquemas de Padula e de toda a corja da pasta da Educação evideciam quais eram os reais interesses no fechamento de escolas e, futuramente, na privatização do ensino.

A precariedade do ensino não é por falta dinheiro e sim pela má e corrupta gestão.