“Alckmin quer ser o padrinho da indústria de desenvolvimento de games do Brasil”, diz ao DCM uma fonte após uma reunião do vice-presidente com representantes do setor.
Em 24 de fevereiro, a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, Abragames, teve dois encontros em Brasília com representantes do Ministério da Cultura (MinC), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex-Brasil.
Eliana Russi, diretora de operações da Abragames, não estava sozinha. Junto com ela estava Gustavo Steinberg, o presidente do BIG Festival, o maior evento brasileiro de jogos nacionais, os chamados indie, os independentes da grande indústria.
Para a edição de 2023, o BIG Festival recebeu a inscrição de 626 jogos eletrônicos, valorizando o mercado nacional. No entanto, com parcerias antigas com a Abragames e a Apex, o BIG também é espaço internacionalizado. Ela receberá também games de 55 países diferentes.
Com o desmonte das políticas públicas do governo Bolsonaro, o BIG foi incorporado pela Omelete Company, dona da feira CCXP, de cultura pop. O encontro desse empresário e da associação com os representantes dos ministérios aponta uma retomada de investimentos no setor, pensando novamente nos pequenos desenvolvedores brasileiros e não apenas no mercado internacional.
O café da manhã no MDIC com Alckmin, além do MinC, foi uma conversa agradável, segundo diferentes pessoas que acompanharam o evento. O ministro da Indústria e vice-presidente quer ser um representante do setor, que carece de aproximação com entidades governamentais e que viu sua pauta ser sequestrada e prejudicada pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro fez quatro reduções de impostos que não geraram ganhos de consumo porque a alta do dólar e a inflação corroeu o poder aquisitivo dos brasileiros. E cortou a verba pública de editais que auxiliavam novos estúdios nacionais a entrarem nesse mercado.
Para além da cultura nerd de nicho, o mercado de games no Brasil teve US$ 2,3 bilhões de faturamento, sendo o 10º maior espaço do setor no mundo e o 5º maior para jogos de celulares. Há 94,7 milhões de jogadores no nosso país e somente 1009 empresas desenvolvedoras de games.
Dessas companhias, mais da metade são pequenas e médias empresas, além de microempreendedores individuais. Com a falta de incentivos do governo federal e de governos estaduais, as empresas estão deixando o Brasil e os estudantes formados estão buscando bolsas internacionais. É a chamada fuga de cérebros. E esses dados são da pesquisa da própria Abragames e da entidade internacional Newzoo.
Gamescom, a maior feira de games na Europa, que ocorre em Colônia, na Alemanha, dará destaque para jogos brasileiros. Nesse contexto, o governo dá sinais que enxerga a indústria de jogos eletrônicos como uma importante vitrine, para consumo interno e externo.
E a foto do vice-presidente aparece meses depois de um grupo de desenvolvedores e entusiastas dos games terem levado uma cartilha pessoalmente para o presidente na campanha eleitoral de 2022, em agosto.
O nome da carta entregue ao então candidato é Lula Play.
O pessoal do Lula Play se reúne com o ministério de Alckmin
Com auxílio do Instituto Lula, a Rede Progressista de Games, a RPG, formada pelos autores da cartilha Lula Play, se reuniu com o MDIC na manhã de 6 de março. Realizada virtualmente, o encontro foi conduzido pelo secretário da pasta, o economista Uallace Moreira Lima.
A rede fez uma apresentação dos dados do mercado, deu um panorama das ações que levaram o grupo a entregar uma carta de políticas públicas para o governo Lula e explicou a atuação de associações regionais de desenvolvedores pelo Brasil, que tentam inserir os pequenos criadores de games no mercado. Essas pequenas associações atuam com profissionais que não conseguem chegar até a Abragames, sediada em São Paulo.
Elas elevam a formação e a atuação de profissionais de jogos digitais em universidades no Norte e no Nordeste, além de unificar desenvolvedores no Sul do Brasil, financiando ações coletivas. O secretário e os representantes da pasta se interessaram no fortalecimento regional do mercado de jogos no Brasil.
A Rede Progressista de Games tem encontros agendados com mais ministérios e poderá se encontrar com o vice-presidente. A ministra do Esporte, Ana Moser, que afirmou ao portal UOL que “eSports não são esportes”, disse que leu a cartilha Lula Play e que reconheceu que games são uma “pauta interministerial”.
Mas o primeiro ministro a se mostrar publicamente favorável a retomar investimento em games no governo Lula, marcando reuniões, foi o ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin.
A confusão da declaração de Haddad envolvendo games
Em uma entrevista ao UOL em primeiro de março, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou que iria “regulamentar jogos eletrônicos”. A fala repercutiu mal no mercado de games, dando a entender que os preços iriam subir mais para os consumidores brasileiros.
Consoles da atual geração de videogames estão custando, atualmente, entre R$ 4 mil e R$ 5 mil. Um game internacional na semana lançamento chega por R$ 350, o que demonstra uma sobretaxação.
Haddad se referia, na verdade, aos jogos de apostas e aos cassinos online, que não estavam taxados desde o governo Bolsonaro. O ministério da Fazenda desfez a confusão posteriormente.