Como as defesas de generais golpistas abandonaram Bolsonaro

Atualizado em 3 de setembro de 2025 às 16:12
Augusto Heleno, Jair Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira. Foto: reprodução

Durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista, as defesas do general da reserva Augusto Heleno e do general Paulo Sérgio Nogueira buscaram distanciar seus clientes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontado como líder dos planos para manter-se no poder após a derrota eleitoral em 2022.

O advogado Matheus Milanez, que representa Heleno, citou a entrada do centrão no governo e afirmou que “iniciou-se um afastamento” do general em relação ao ex-presidente, mas ponderou que o distanciamento não foi “100%”, já que Heleno manteve-se ministro e apoiador de Bolsonaro.

Milanez destacou ainda que Heleno defendia a vacinação do ex-presidente: “Para o general Heleno, o presidente tinha que se vacinar. Isso está na sua caderneta pessoal. Era um pensamento do próprio general”.

O criminalista reforçou que, segundo relatos de testemunhas, Heleno perdeu influência após a filiação de Bolsonaro ao PL. “O Ministério Público tenta construir um discurso de que o presidente seria o grande aconselhador… Realmente, o general Heleno foi uma figura de destaque, uma figura política importante, tanto para a eleição quanto para o governo. Mas este afastamento da cúpula decisória é comprovado”, disse Milanez.

Ele concluiu que “nenhum militar foi procurado pelo general Heleno. Nenhum militar foi pressionado. Nenhum. E que provas traz a defesa? As que estão aqui. Que provas traz o Ministério Público? Nenhuma”.

A defesa do general Paulo Sérgio, conduzida por Andrew Farias, enfatizou que o ex-ministro da Defesa atuou para “demover” Bolsonaro de qualquer golpe. Farias citou depoimentos, como o do brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, afirmando que “o depoimento da principal testemunha de acusação é contundente, acachapante, em falar que o general Paulo Sérgio atuou para demover o presidente de incursar, de caminhar por qualquer medida de exceção”.

Segundo o advogado, o general também foi alvo de ataques e chamado de “melancia” por apoiadores do golpe, mas há “prova forte que o general Paulo Sérgio atuou contra, para impedir”. A ministra Cármen Lúcia questionou: “Por que até agora todo mundo diz que ninguém pensou nada [sobre golpe]”. Farias respondeu: “Demover de adotar qualquer medida de exceção. Atuou ativamente”.

A defesa do ex-presidente Bolsonaro, representada por Celso Vilardi, negou envolvimento dele nas ações descritas na denúncia. “Não há uma única prova que atrele” Bolsonaro aos documentos encontrados, incluindo o Punhal Verde e Amarelo, suposto plano para matar Lula, Moraes e Alckmin, disse Vilardi.

Ele ainda afirmou que o ex-presidente foi “dragado” ao 8 de Janeiro e criticou a delação premiada de Mauro Cid, alegando “vício de vontade” na produção do material.

“Não tem um email, não tem uma comunicação, não tem uma pessoa que atrele o presidente ao 8 de Janeiro, ao [plano] Punhal [verde e amarelo], não tem nada. A denúncia está baseada num general que imprime uma minuta no Palácio e no mesmo dia vai ao Palácio do Alvorada. Essa é a prova? Não existe absolutamente nada”, concluiu Vilardi.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.