
O anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, que entra em vigor na próxima quinta-feira (1º), já está causando impactos diretos na indústria nacional. De Minas Gerais a Santa Catarina, empresas exportadoras estão sendo obrigadas a paralisar atividades e conceder férias coletivas aos funcionários diante da suspensão repentina de pedidos por parte de compradores estadunidenses.
Em Matozinhos, na região metropolitana de Belo Horizonte, Elton Silva, supervisor do departamento de carvão de uma siderúrgica, coordenou o último carregamento de minério de ferro antes da paralisação forçada. “Não é um momento muito legal. A gente sai de férias, infelizmente, umas férias meio forçadas, não é umas férias programadas. A gente sai com pesar, com preocupação”, relatou à Globo.
A siderúrgica, que produz ferro-gusa, matéria-prima essencial para a produção de aço, esteve entre as várias do estado que interromperam suas atividades. O operador Carlos Alberto Souza também entrou em férias sem perspectiva de descanso: “Quando são férias programadas você administra as coisas: posso viajar, posso pescar, posso passear com esposa, com filhos. Mas férias assim, a gente teve que ficar em casa mesmo aguardando”.
André Ribeiro, empresário e dono de usina em Minas Gerais, explicou a decisão drástica: “Hoje minha produção aqui era 80% exportada para os Estados Unidos e o comprador lá do nosso material nos pegou de surpresa na segunda-feira anunciando a suspensão das entregas. Produzir material para ficar no chão sem ter um comprador não justificava, por isso a paralisação”.

O ferro-gusa esteve entre os produtos mais exportados pelo Brasil para os EUA, com mais de US$ 600 milhões em vendas apenas no primeiro semestre de 2025.
João Pedro Revoredo, mestre em economia pela UFMG, analisou: “Os agentes respondem às informações que têm. Por agora o que ele soube foi que teria essa tributação na semana que vem, o que penalizou o negócio deles. A partir desse primeiro momento, ele quis se precaver”.
O impacto não se limitou à siderurgia. Em Mato Grosso do Sul, produtores de carne já redirecionaram suas exportações para China, Sudeste Asiático e Oriente Médio, já que a tarifa de 50% tornou inviável o comércio com os EUA.
Em Santa Catarina, uma empresa que exportava produtos de madeira para os Estados Unidos há 60 anos tomou uma medida inédita: concedeu férias coletivas por tempo indeterminado para todos os colaboradores.
João Jairo Canfield, CEO do Grupo Ipumirim, ainda manteve esperança: “A gente está aguardando o posicionamento de ambos os governos. Acredito que deva existir bom senso neste momento para preservar os empregos que possa dar continuidade aos negócios o mais rápido possível”.