Como Bolsonaro, Milei propõe chutar o balde e provocar ruptura. Por Gilberto Maringoni

O hermano falastrão já está com a faixa no peito

Atualizado em 19 de agosto de 2023 às 15:04
Javier Milei, o candidato da extrema direita argentina — Foto: Luis Robayo/AFP
Javier Milei, o candidato da extrema direita argentina. Foto: Luis Robayo/AFP

É muito complicada a situação eleitoral argentina. O representante do puk-fascio, Javier Milei, está com índice de popularidade de 44,5% dos eleitores, na primeira pesquisa pós-PASO, divulgada pelo jornal Clarín. Ele é seguido pela extremista Patricia Bullrich, ex-ministra de Maurício Macri, que tem 40,9% das menções e o peronista Sergio Massa aparece bem atrás, com 26,1%.

A explosiva ascensão de Milei, com propostas que ninguém em sã consciência poderia fazer espanta não por ele ser um tipo bizarro, mas por expressiva parcela da população ter ligado o “foda-se” e ter aderido à sua bizarrice. Há um desejo crescente de emigrar entre a juventude de todo o país. Diante de uma vida que não muda e de perspectivas sombrias de futuro, o desencanto se transforma em terreno fértil para a a extrema-direita.

Qual a resposta dos distintos governos ditos progressistas do continente num quadro de crise e ebulição social? Garantir políticas de ajuste fiscal, de demonização do gasto público e propagar a enganosa tese de que o investimento privado irá transformar o país.

O que propõe Milei? A exemplo de Jair Bolsonaro, sua diretriz é chutar o balde e provocar uma ruptura econômica e, se possível, institucional. Em uma expressão, a extrema-direita propõe uma revolução ultraconservadora contra a ordem que o próprio conservadorismo criou, e que hoje é legitimada pela centroesquerda. Completa-se na América Latina um movimento já visto na Europa: a adesão do progressismo e da socialdemocracia ao status quo, deixando livre o discurso da mudança para qualquer aventureiro que dele lançar mão.

A extrema direita captura uma bandeira cara à esquerda há um século e meio: a de que as coisas não podem continuar como estão. Alguém duvida que hoje governos como os de Gabriel Boric, dos peronistas e dos petistas, entre outros, sejam fiéis cumpridores das imposições do financismo e das classes dominantes de cada país? Claro, com mais jeito e suavidade que diversos brucutus reacionários.

No início dos anos 1990, após a queda da URSS, não faltaram vozes à esquerda e à direita a repetir que revoluções sociais não mais seriam possíveis, diante da inescapável vitória do capitalismo contra o socialismo real. Autores como Francis Fukuyama, Samuel Huntington, Jorge Castañeda e outros tornaram-se best-sellers com teses no mínimo discutíveis. Aliás, este último esteve há alguns dias em São Paulo pontificando suas novas elocubrações para acadêmicos e dirigentes do PT e do PSOL.

Milei e Bolsonaro sequer devem ter lido tais autores. Querem virar uma página na história política de nossos países e mobilizam manifestações de massa por essas pretensas causas. Como dizia Millôr Fernandes, cujo centenário transcorreu nesta semana, o problema é que na América Latina essa virada de página em geral é para trás.

Mas são hábeis em propagar, com som e fúria, que dolarização, desmonte do Estado, extinção de ministérios e venda de órgãos são a saída para quase tudo.

(Bolsonaro está enrascado e com Milei pode acontecer o mesmo em alguns anos. Mas enquanto estão em ação promovem demolições por vezes irreversíveis em seus países)

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