Como Confúcio pode ajudar você a entender a China

Atualizado em 6 de abril de 2013 às 18:13

Desde crianças os chineses devoram os ensinamentos eternos do grande filósofo.

Confúcio num filme chinês
Confúcio num filme chinês

APRENDER MANDARIM é difícil. Exige uma força de vontade colossal,  digna de Demóstenes, o orador grego que raspava parte do cabelo para assim não poder sair de casa e treinar a arte da retórica, que dominaria como ninguém. Mas há uma maneira bem mais fácil de entender a China e o chinês: ler Confúcio, o grande sábio que é mentor espiritual da nova superpotência.

Que nós, ocidentais, não entendemos a China é fato: até há pouco tempo líamos, nas melhores publicações dos Estados Unidos e da Europa, que se tratava de um país de segunda classe, basicamente vivendo do trabalho semiescravo para exportar produtos baratos e ordinários para o resto do mundo. Havia, também, um problema seriíssimo ambiental na China, líamos exaustivamente.

A China era tratada como o Haiti da Ásia.

Bem, enquanto isso a China lia Confúcio, como sempre, e andava. Andava não: corria. É um caso único de país destruído por pedradores ocidentais (Guerras do Ópio, no século 19) a se reconstruir e voltar a ter as dimensões de outrora. Este milagre tem um nome: Confúcio.

Confúcio explica a China e a China explica Confúcio, numa simbiose raríssima entre um país e um pensador.

Confúcio (551-479 AC) é tão grande, para os chineses, que segundo os relatos históricos tinha 2,30 metros. Ele fez carreira notável como funcionário público no estado de Lu, hoje Xantung. Desistiu do cargo e abandonou a região quando viu que o soberano se entregara à devassidão. O chefe de uma região local enviara ao libertino 30 mulheres lindas com a intenção de tirar seu foco administrativo. A ação foi um sucesso, a despeito dos esforços de Confúcio. Quando ele viu que seu chefe estava mais interessado nas mulheres que no governo, foi embora. Lu se arruinou.

Respeitar as regras da sociedade é um dos conceitos cruciais do confucionismo. Por trás disso havia o objetivo de coibir as múltiplas revoltas que atormentavam os chineses. O respeito aos mais velhos é outro pilar de Confúcio para que se construa uma sociedade justa. Você não passa a vida aflito com a possibilidade de ser desprezado na velhice quando existe uma cultura de reverência aos cabelos brancos.

Como Jesus, Sócrates e Buda, Confúcio não escreveu livros. Seus ensinamentos foram recolhidos pelos discípulos. A essência de sua filosofia está nos Analectos, uma coletânea de reflexões.  (Analecto significa antologia.) Há pelo menos duas versões boas em português, uma da Martins Fontes e outra da Pensamentos. Selecionei 10 máximas confucianas que ajudam a entender o fenômeno chinês e, de quebra, podem ser úteis a você também:

1) “Respeitar os pais e os mais velhos é a raiz da humanidade.”

2)” Examino a mim mesmo três vezes por dia. Ao intervir em favor dos outros, fui digno de confiança? Na relação com meus amigos, fui leal? Pratiquei o que aprendi?”

3)”Em casa, um jovem tem que respeitar seus pais. Fora de casa, deve respeitar os mais velhos; amar todas as pessoas, mas associar-se aos virtuosos.”

4) “Não se preocupe se as pessoas não reconhecerem seus méritos. Preocupe-se se você não reconhecer os delas.”

5) “Aquele que se apressa demais não vai longe; aquele que procura pequenas vantagens perde as grandes coisas.”

6) “O cavalheiro considera mais o todo que as partes. O homem pequeno considera mais as partes que o todo.”

7) “O verdadeiro cavalheiro prega apenas o que pratica.”

8 ) “Promova os homens retos, e conquistará o respeito do povo. Se você promover os tortos, o povo lhe negará apoio.”

9) “Não agir quando a justiça exige é covardia.”

10) “Armazenar conhecimento em silêncio, permanecer para sempre faminto de aprendizagem, ensinar os outros sem cansar: tudo isso é natural para mim.”