
O Brasil parece dividido como há muito tempo não se via. Talvez desde o governo do general Emílio Médici, que conclamou os brasileiros a amar o país ou deixá-lo.
Petistas e antipetistas.
Não é bom. Evidentemente, isso complica a construção de uma causa, de um projeto de país em torno do qual haja um razoável consenso.
Dois gestos recentes, por serem opostos, merecem a atenção dentro desse quadro.
O positivo veio de Dilma, ao reconhecer – enfim – as qualidades de Fernando Henrique Cardoso. O governo de FHC trouxe a estabilidade sem a qual o Brasil provavelmente estaria dando saltos histéricos deum plano econômico mirabolante para outro. Nova moeda, zeros cortados, aquela miséria toda que conhecemos tão bem.
FHC foi — é — um homem público inspirador, exemplar. E Dilma se elevou, a si própria, ao admitir isso tão claramente na carta que enviou a ele em seus 80 anos. Foi uma atitude que une, não separa.
O gesto negativo veio de outro homem público notável, Lula. Num encontro com blogueiros, Lula voltou a atacar a mídia. Falou nos “falsos formadores de opinião”. Que os há, é claro. Quantos deles não fracassaram ao tentar convencer os eleitores de que era ruim votar em Lula uma, duas vezes, e depois em Dilma? Basta olhar os resultados das três últimas eleições para ver o quanto diminuiu a influência dos tradicionais “formadores de opinião”.
Lula não precisa sublinhar isso. Os fatos estão aí. E ao voltar agressivamente a um tema que tanto o incomodou em seu passado apenas ajuda a dividir mais ainda um país que precisa urgentemente aprender a multiplicar.