Como diria Sergio Moro, quem “supostamente” patrocina a Lava Jato? Por Donato

Atualizado em 11 de maio de 2017 às 10:13
“Supostamente”

O juiz de primeira instância Sergio Moro começou dizendo que nada tinha contra Lula nem que aquela audiência tinha fundo político.

No entanto, Moro repetiu algumas perguntas de maneira insistente demonstrando não estar satisfeito com as respostas. Afinal, elas não tinham a senha ‘lula’.

Moro misturou assuntos de processos diferentes. Essa falta de objetividade, se não é estar fazendo política é, no mínimo, uma prova de despreparo do juiz.

Ou quem sabe, fruto da mente de alguém que expôs-se por tempo demasiado ao powerpoint de Deltan Dallagnol.

Para coroar, durante as considerações finais, Sergio Moro afirmou ser também muito atacado pela imprensa, “inclusive por blogs que supostamente patrocinam o senhor”.

Noves fora a confusão mental (ele provavelmente quis falar em “blogs patrocinados pelo senhor”), o que significa “supostamente”?

Que juiz faz uma afirmação baseada em suposição? De quais blogs está falando? Isso foi uma ameaça velada?

No fundo, não há por que se surpreender que um juiz como Sergio Moro faça uso de suposições. É só o que a Lava jato tem feito. Tudo está fundamentado em delações. Na caguetagem mútua de inescrupulosos corruptos.

Durante todo o depoimento de ontem, Moro não cansava de afirmar: ‘Leo Pinheiro disse isso, Leo Pinheiro disse aquilo…’ e em seguida emendava as perguntas. Todas baseadas unicamente nas delações, esse artifício que se tornou um monstro nas mãos da operação.

Lula pedia provas e desbancou Moro com maestria: delação virou alvará de soltura hoje em dia. Como acreditar no que é dito? Aí até ‘a nível de’ Brasil é esculhambação demais.

Sergio Moro gastou preciosos minutos no início da audiência para garantir a Lula que nada do que estava acontecendo ali era fora da normalidade, que ele era imparcial e blablabla. Do lado de fora estavam 1 700 policiais. A área do entorno estava isolada como se uma ameaça de bomba colocada no prédio houvesse sido feita.

Manifestantes pró e contra foram mantidos longe pelo receio de uma batalha motivada, entre outras coisas, por cartazes espalhados por Curitiba que clamavam pela prisão de Lula (contra os quais Moro não tomou nenhuma medida).

Esse mesmo circo seria montado para receber, digamos, Aécio Neves? Ou Sergio Moro irá insurgir-se contra a medida de Gilmar Mendes que aprovou que Aécio Neves só seja interrogado depois de conhecer o teor das perguntas do depoimento?

Fará insinuações baseadas em suposições? Vai misturar assuntos distintos, misturando caixa dois com cocaína e helicóptero? Fomentará igualmente um clima de apreensão pela possível detenção de Aécio?

Moro tentou transparecer estar realizando apenas e tão somente sua função ‘ainda que algumas perguntas sejam difíceis e o senhor não tenha como ou não queira responder’. Mesmo com Lula afirmando não existirem perguntas difíceis, Moro tentou dificultá-las na base da insistência e fundamentação frágil, como a troca de emails por terceiros.

Ao jogar uma denúncia sem provas de que blogs patrocinariam Lula – o que eu, honestamente, fiquei em dúvida se tinha ouvido direito, afinal o que sempre acusaram não era o contrário? Não eram Lula e o PT que patrocinavam os blogs? – Moro abre espaço para o questionamento: e quem patrocina o juiz? A Globo? A Veja? O Lide de João Doria? O amigo Aécio?

Sergio Moro alegou que a imprensa não detinha qualquer papel relevante no julgamento do processo. Mesmo com os números, apresentados por Lula, comprovassem seu linchamento. Provas, senhor juiz, lembra?