Como Doria permite que uma ordem de despejo seja cumprida durante a quarentena? Por Donato

Atualizado em 7 de maio de 2020 às 11:32
Moradores de área em Taquaral, Piracicaba (SP) sofrem ordem de despejo

Às seis da manhã de hoje (dia 7), cerca de cinquenta famílias da região do Taquaral em Piracicaba (SP), acordaram com tratores destruindo suas casas.

Uma ordem de reintegração de posse violenta foi efetuada em plena pandemia.

As famílias sem teto ocupavam a área desde janeiro. É um terreno que pertence a vários herdeiros de um advogado de Campinas (SP) e estava abandonado.

Caso típico de especulação imobiliária.

O advogado Nílcio Costa dá assessoria jurídica às famílias e tentou impedir o despejo alegando questão humanitária. Mas tanto a justiça de Piracicaba como o Tribunal de Justiça de SP parecem ignorar a existência da pandemia e o risco de morte que estão impondo à essas famílias.

“Essa ação é extremamente absurda nesse momento, em meio a uma pandemia. Ela contraria todas as orientações das autoridades sanitárias. É uma enorme irresponsabilidade.

Nós peticionamos para a juíza de Piracicaba, mas nosso apelo foi ignorado. Então ontem entramos com agravo de instrumento no TJ do Estado e o desembargador reproduziu a mesma decisão da juíza”, disse o advogado ao DCM.

Ou seja, Doria está ciente e conivente. A ação foi truculenta com todos.

A polícia impediu o trabalho do advogado, agrediu a deputada Bebel Noronha que também estava presente, e ainda deu voz de prisão a ambos.

“Só não fomos levados para a delegacia pois houve uma imensa confusão generalizada naquele momento e não conseguiram nos prender”, acrescentou Nílcio Costa.

As famílias foram levadas a um abrigo que nem foi providenciado pelo poder público e sim a deputada Bebel juntamente com a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo).

Os pertences que puderam ser salvos dos tratores estão sendo levados para um galpão e aqueles que tinham condições de ir para casas de familiares, assim o fizeram, arriscando a todos a um maior risco de contágio.

Em plena pandemia e entre discursos diários sobre a necessidade de isolamento, João Doria fecha os olhos para uma ação que joga famílias inteiras na rua. Suas entrevistas coletivas, podemos deduzir, não passam de retórica política de confronto a Bolsonaro.

O MST emitiu uma nota pedindo que sejam denunciados “o governador, a Polícia Militar e o TJ-SP por este ato brutal de violência em plena pandemia”.

“Exigimos que sejam disponibilizadas vagas em hotéis ou alojamentos dignos para receber as famílias despejadas durante a pandemia. Que o governador aponte uma solução ao direito permanente de moradia às famílias sem teto. Que todas as reintegrações de posse urbanas e rurais sejam suspensas enquanto durar a pandemia”, diz o manifesto.

É o mínimo.